17 dez, 2020 - 06:35 • Nomin Munckhjargal*
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A Mongólia conseguiu aguentar 10 meses nesta batalha contra o novo coronavírus sem qualquer óbito e apenas casos importados, sem transmissão local. Isto só foi possível com uma série de restrições severas a limitar a circulação e medidas preventivas em larga escala, implementadas logo em janeiro de 2020.
As medidas preventivas tem tido um impacto negativo sobre a educação e nutrição de crianças, em especial de grupos vulneráveis. Como explica Tumurkhuu, uma costureira que vive na zona de Bayankhushu e que atualmente está a coser máscaras para poder sobreviver, “desde que fecharam as escolas por causa do coronavírus que o meu filho mais velho tem estado a tomar conta dos irmãos. Os miúdos atrasaram-se imenso nos estudos. Não conseguem acompanhar as aulas na televisão. Também eu tenho tido dificuldades financeiras, o que me levou a não conseguir sustentar a minha família nem pagar os meus empréstimos”.
Contudo, há outro inimigo invisível que apresenta uma ameaça de igual ou maior risco – a poluição atmosférica. Esta não só enfraquece o sistema imunitário, aumentando o risco de infeção e até de morte, mas as partículas de poluição podem até ser transmissoras de vírus. Agora aconteceu o pior, um surto de Covid-19 numa das cidades mais poluídas do mundo.
Para conseguir lidar com os desafios criados por esta pandemia, a organização não governamental People In Need Mongolia (PIN) está a fornecer ajuda de primeira necessidade e apoio a milhares das famílias mais vulneráveis da Mongólia. Lançámos também uma campanha de angariação de fundos para proteger as crianças da poluição tóxica, fornecendo-lhes máscaras e informação sobre prevenção. Na PIN identificámos o combate à poluição atmosférica, tanto dentro como fora de portas, como uma prioridade para o desenvolvimento e um imperativo de direitos humanos.
Juntamente com os nossos parceiros e doadores dedicados, já conseguimos ajudar mais de 15 mil pessoas, incluindo 5.000 lares e mais de 9 mil crianças, mas é preciso fazer mais para combater a poluição atmosférica nestes tempos difíceis.
Ulan Bator (ou Ulaanbaatar), a capital da Mongólia, é não só a capital mais fria do mundo, com temperaturas que descem abaixo dos -40ºC no pico do inverno, mas também uma das cidades mais poluídas do mundo. De acordo com a UNICEF, os níveis de uma das partículas aéreas mais pequenas e mais perigosas, a PM-2.5, chegaram a estar 133 vezes acima do máximo sugerido pela Organização Mundial da Saúde. O resultado tem sido uma crise de saúde infantil em Ulan Bator, com cada criança e cada gravidez em risco. Entre os efeitos incluem-se níveis mais altos de nados mortos, prematuros, baixos pesos no parto, pneumonia, bronquite, asma e morte. Como se lê num artigo do National Geographic sobre o perigo da poluição atmosférica para a saúde infantil: “’Já nem conheço o som de um pulmão saudável’, diz Ganjargal Demberel, uma médica que faz visitas domiciliárias num bairro de yurts… ‘Toda a gente tem bronquite, ou algum outro problema, sobretudo durante o inverno’”
Na altura em que escrevo, a Mongólia está a atravessar um confinamento rigoroso a nível nacional desde o dia 11 de novembro, quando foi detetado o primeiro caso de transmissão comunitária de Covid-19. Toda a nação sustém a respiração enquanto espera pelos próximos passos.
Apesar da pandemia e do recente confinamento, a nossa equipa na PIN Mongólia continua a trabalhar para combater a poluição atmosférica e as alterações climáticas, abordando temas como os direitos humanos e a apoiar os mais vulneráveis. Temos a firme crença de que devemos continuar a trabalhar por uma Mongólia limpa, saudável e que respeite os direitos humanos.
*Nomin Munkhjargal é diretora de parcerias da People In Need na Mongólia. Quem estiver interessado em saber mais sobre como ajudar a organização na luta contra a poluição naquele país pode contactá-la através do email nomin.munkhjargal@peopleinneed.cz.