20 dez, 2020 - 16:17 • Lusa
O ministro da Defesa considerou este domingo "fundamental" o sucesso das missões militares das Nações Unidas e da União Europeia no Mali, advertindo que a instabilidade neste país tem como consequência a exportação do terrorismo para a Europa.
João Gomes Cravinho assumiu esta posição após um almoço de Natal com os militares portugueses em missão no Mali, numa deslocação em que teve reuniões com o seu homólogo maliano, Sadio Camara, e com o vice-Presidente deste país, Assimi Goita.
Em declarações à agência Lusa e à TSF, o ministro da Defesa considerou "complexo" o cenário de segurança existente no Mali e referiu-se ao golpe de estado que derrubou em agosto passado o Presidente Keita, estando agora em funções um Governo de transição com um mandato de 18 meses para preparar eleições.
"Apesar de a situação ser complexa, os nossos militares estão plenamente preparados para as condições difíceis que existem no Mali e têm todos os protocolos de segurança para desempenharem as suas missões. Este contingente militar, que tem sido elogiado pelas Nações Unidas e pela União Europeia, tem assistido a um certo recrudescimento de atividades terroristas em diversas partes do país", declarou João Gomes Cravinho.
Neste ponto, o ministro da Defesa salientou que os militares portugueses "desempenham uma missão fundamental" no sentido de "contribuírem para a paz e para a segurança no Mali".
"A instabilidade neste país fomenta a exportação do terrorismo para outras partes do continente africano e para a própria Europa. Não podemos aceitar que esta região, que é vasta, seja controlada por terroristas, porque as consequências não serão apenas para a população desta região. Haverá consequências também para todos nós na Europa", sustentou o membro do Governo.
João Gomes Cravinho acentuou depois a ideia de que "Portugal quer ver o Mali estabilizado, porque é uma peça chave para toda a região do Sahel".
"Queremos que as autoridades deste país façam a sua parte ao aderir àquilo que está estabelecido no plano internacional para o regresso à democracia", observou ainda o ministro, que nesta deslocação a África, em que está acompanhado pelo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o almirante António Silva Ribeiro, já passou pela República Centro Africana e por São Tomé e Príncipe.
O destacamento português no Mali é constituído por 65 militares, com um avião C-295, no âmbito da missão das Nações Unidas, e por 11 militares integrados na missão das União Europeia, a EUTM Mali, mais vocacionada para o treino, formação e aconselhamento.
A Força Nacional Destacada no Mali desde 01 de julho, no âmbito da MINUSMA (Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para Estabilização do Mali), tem como objetivo assegurar missões de transporte de passageiros e carga, transporte tático em pistas não preparadas, evacuações médicas, largada de paraquedistas, vigilância aérea e garantir a segurança do campo norueguês de Bifrost, em Bamaco.
Já no respeita à EUTM Mali, esta missão foi lançada em fevereiro de 2013 e teve recentemente o seu mandato estendido até maio de 2024. A missão foi comandada pelo brigadeiro-general Boga Ribeiro durante o primeiro semestre de 2020, tendo mantido um contingente de 12 a 18 elementos na missão durante esse período.
No final do almoço de Natal com os militares portugueses, João Gomes Cravinho transmitiu-lhes uma mensagem de elogio da parte do primeiro-ministro, António Costa, que estava para realizar esta visita ao Mali, mas que foi forçado a cancelá-la por se encontrar desde quinta-feira em isolamento profilático da covid-19.
Tal como tinha feito na República Centro Africana, o ministro da Defesa ofereceu simbolicamente a três militares relógios com a inscrição "Portugal sempre", uma prenda que depois será dada a todos os militares deste destacamento.
"Obrigado pela vossa disponibilidade para trabalharem num cenário de grande desconforto", declarou o titular da pasta da Defesa.
Durante o último ano, no plano militar, os militares governamentais foram várias vezes vencidos por grupos islâmicos ligados ao grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico e a grupos afiliados à Al-Qaida, nomeadamente no centro do país e junto à fronteira do Chade.
O Mali faz fronteira a Norte com a Argélia, a Oeste com a Mauritânia, Senegal, Gâmbia e Guiné, a Sul com a Costa do Marfim e Burkina Faso, e a Leste com o Níger.
Com quase 20 milhões de habitantes, mais de 60% dos quais com menos de 25 anos, este país francófono é o oitavo em área no continente africano.