05 jan, 2021 - 17:55 • Filipe d'Avillez
António Costa e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, querem trabalhar juntos para uma recuperação económica justa, verde e digital, disseram esta segunda-feira os dois líderes em conferência de imprensa conjunta, em Lisboa.
Costa, que enquanto primeiro-ministro português assume a presidência da União Europeia durante os próximos seis meses, diz que a primeira prioridade do semestre será a recuperação económica. “Depois do extraordinário trabalho da presidência alemã agora é tempo de agir para assegurar uma recuperação justa, verde e digital”, afirmou.
“Para isso é fundamental garantir que os parlamentos nacionais aprovem o aumento do teto dos recursos próprios da UE, que o Parlamento Europeu aprove o regulamento do fundo de resolução e concluir a aprovação dos 27 planos de recuperação, que assentará em dois pilares fundamentais: a transição climática e a transição digital, que são oportunidades e não obstáculos”, complementou o primeiro-ministro.
O primeiro-ministro português quer ainda uma Europa “mais presente nas cadeias de valor, mas que recusa o protecionismo e continua aberta ao mundo, de uma forma plural, desenvolvendo as suas parcerias”.
António Costa falou ainda da importância da vacinação contra a Covid-19, sublinhando que a recuperação económica não vai depender só da aprovação de planos a nível nacional e europeu, mas sobretudo da confiança gerada por uma campanha de vacinação que só é possível porque a União Europeia investiu nela em conjunto.
“A aquisição conjunta de vacinas foi das decisões mais importantes que a UE tomou no ano passado”, disse.
“Termos conseguido assegurar que as vacinas eram fornecidas simultaneamente a todos os Estados-membros de acordo com a sua população foi um momento fundamental de aproximação entre UE e cidadãos, para todos os cidadãos compreenderem bem a mais-valia que a UE constitui.”
“Não temos que andar agora, como andámos no princípio desta crise, a guerrear para ter máscara e gel. Desta vez, todos tiveram acesso a vacinas de forma justa em função da sua população”, concluiu Costa, descrevendo este facto como um período único na história da humanidade.
António Costa referiu ainda a importância de se desenvolver o pilar social da União Europeia.
“Precisamos de uma base sólida, para dar confiança a todos para enfrentar os desafios da transição climática e digital”, considera, acrescentando a necessidade de “investir nas qualificações, na inovação, garantir proteção social para que estas transições sejam uma oportunidade para todos e que ninguém fique para trás.”
Questionado sobre a tradicional oposição de Estados-membros europeus mais liberais (casos da Irlanda ou da Holanda) a um aprofundamento de regras de caráter social na União Europeia, o primeiro-ministro português defendeu a importância da cimeira social prevista para 7 de maio no Porto, onde se procurará um compromisso comum em torno do pilar social.
"No dia seguinte, no dia 8 de maio, também no Porto, haverá um Conselho informal, onde será trabalhada uma declaração que reafirme o compromisso de todos os Estados-membros no sentido de desenvolver este pilar social - um pilar que não vale por si só, mas que deve ser encarado como uma base sólida para dar confiança a todos os cidadãos", reagiu António Costa.
De acordo com o primeiro-ministro, a União Europeia enfrenta os desafios das transições climática e digital "e ninguém deve ficar para trás".
"O medo é aquilo que mais alimenta o populismo. Se queremos combater o populismo de forma eficaz, temos de dar confiança aos cidadãos - confiança perante aquilo que são os receios", sustentou.
No presente, António Costa apontou a doença da covid-19 como o principal receio manifestado pelos cidadãos, razão pela qual o processo de vacinação em curso na União Europeia "é fundamental".
"Mas há também outros receios. As pessoas têm receio que com a digitalização o seu posto de trabalho seja ocupado por um robô, e têm medo de que com a transição climática haja impacto em indústrias tradicionais como a do automóvel. Temos também de nos vacinar contra esses medos", argumentou.
Para António Costa, uma das vacinas contra o medo passa pela existência "de um pilar social forte" na União Europeia, que dê prioridade "às qualificações e às requalificações dos cidadãos".
"Temos de investir na inovação para que haja maior competitividade, mas também tem de haver proteção alargada para que ninguém fique para trás e todos participem na sociedade do futuro, que se pretende mais sustentável do ponto de vista ambiental e mais digital", acrescentou.
[Notícia atualizada às 20h39]