15 jan, 2021 - 21:17 • Lusa
Milhares de venezuelanos ficaram esta sexta-feira sem sinal de televisão satélite um mês depois de a operadora Simple TV ter começado a cobrar uma mensalidade aos utilizadores, que se queixam ter pagado atempadamente o serviço.
A falha afeta também milhares de portugueses que ficaram sem poder ver a emissão da RTP Internacional.
“Quando ligo o descodificador aparece uma mensagem que diz ‘recetor sem serviço’. Paguei a nova mensalidade há mais de uma semana e ainda não atualizaram o sistema”, explicou à agência Lusa um cliente.
Araid Martinez, 30 anos, e empregada de uma seguradora, está contrariada com a situação, porque tem várias ‘boxes’ e não pode sintonizar um canal infantil para a sua filha de quatro anos.
“A operadora não tem sistema de atendimento telefónico, é tudo feito por via eletrónica e começa com uma assistente virtual, sendo necessário insistir para falar com alguém do departamento de apoio ao cliente. Quando consegui responderam-me que o meu número de cliente estava ativo no sistema, mas inativo na plataforma, o que me parece contradição e tenho que esperar”, explicou.
No mesmo sentido se queixou à Lusa o lusodescendente José Freitas, que está impedido de gravar e visualizar a programação que guardou no seu descodificador, quando faltam horas para ver as aulas de Português Língua Não Materna, do programa Estudar em Casa, que a RTPi começou a transmitir aos sábados para o continente americano.
“É difícil de explicar: ou não temos luz, ou água, ou gasolina, ou televisão satélite. Todos os dias há um contratempo para superar”, lamentou.
José Freitas queixou-se também dos preços elevados que são cobrados, “num país onde tudo está dolarizado e a valores superiores aos praticados no estrangeiro”, o que obriga a fazer “escolhas” e a estabelecer prioridades.
“Estou a ponderar suspender definitivamente o serviço, porque os 40 dólares que pago pela subscrição da televisão por cabo, podem ser mais uteis noutras coisas para o lar”, frisou.
Vários clientes usam as redes sociais para se queixarem de que a operadora, desde que iniciou operações, tem apresentado falhas de sinal, eliminado e substituído canais, modificado planos de programação e que estão sem serviço, apesar de terem efetuado as “recargas” (carregamentos) para evitarem suspensões.
A Simple TV é a nova operadora de televisão por satélite, que substitui a DirecTV, empresa que a 19 de maio de 2020, deixou mais de 2,5 milhões de famílias sem o serviço de televisão por cabo, devido a uma decisão da norte-americana AT&T de suspender esse tipo de serviço na Venezuela.
A decisão, segundo a AT&T, foi justificada com a imposição de sanções pelos Estados Unidos contra o Governo venezuelano e o cumprimento da licença local de operação, que exige que sejam transmitidos os canais Globovisión e Pdvsa, sancionados por Washington.
A suspensão, que afetou pelo menos dez milhões de pessoas, apanhou os venezuelanos de surpresa, tendo os portugueses que residem no país ficado privados da emissão internacional do canal público português RTPi.
O serviço da DirecTV representava 45% do mercado de televisão por subscrição na Venezuela. O seu custo era de aproximadamente um euro mensal para o pacote em Alta Definição que agora custa quase 30 euros, mais taxas.
Em 30 de maio, o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, congratulou-se com a suspensão dos serviços da DirecTV e prometeu aos venezuelanos melhores e mais sofisticados sistemas televisivos no país.
Em 14 de agosto, o grupo empresarial Scale Capital anunciou que chegou a acordo com a norte-americana AT&T para comprar a DirecTV, e restituir o serviço de televisão por cabo.
O serviço, que apresentou vários falhas, usa a infraestrutura da Directv na Venezuela e depois de quatro meses de testes, passou a ser faturado mensalmente a partir de 15 de dezembro de 2020.