04 fev, 2021 - 18:42 • Filipe d'Avillez
Os militares que tomaram o poder no Myanmar bloquearam o acesso ao Facebook e outras redes sociais, alegando que estes estavam a ser utilizados para provocar “instabilidade” no país.
Depois de alguns anos de abertura democrática, que se seguiram a seis décadas de ditadura militar, as Forças Armadas voltaram a tomar o poder no dia 1 de fevereiro, detendo o Presidente da República por ter violado os regras de distanciamento social durante uma campanha política e a líder do Governo Civil, Aung San Suu Kiy por ter na sua residência um “walkie talkie” ilegal.
As forças armadas esperam assim poder impedir os cidadãos de coordenar protestos. Cerca de metade dos habitantes do Myanmar utilizam o Facebook. O acesso a outras redes sociais, como o WhatsApp e o Instagram também foi limitado com o mesmo propósito.
Entre os protestos organizados pela população encontram-se as campanhas de desobediência civil promovidas por professores e profissionais de saúde que se recusam a trabalhar às ordens dos militares. Ao nível da população mais geral têm sido coordenadas horas específicas para ir para as janelas e varandas das casas bater em tachos e panelas, uma forma simbólica, na sociedade birmanesa, de afugentar o mal.
O Ministério das Comunicações e da Informação disse, sobre a decisão, que o Facebook continuaria bloqueado até domingo, justificando medida com o facto de este estar a ser usado para “criar instabilidade” através da divulgação de “fake news e desinformação”.
O povo birmanês respondeu aos bloqueios através do recurso a redes virtuais privadas (VPN), cuja procura aumentou 4300%, mas a junta militar já respondeu dizendo que vai também bloquear esses servidores.
Pelo menos 147 pessoas foram detidas desde o golpe do dia 1 de fevereiro, incluindo ativistas e deputados. O golpe de Estado tem sido condenado por vários países mas os militares dizem que tiveram de agir devido à existência de fraude nas recentes eleições que viram o partido de Aung San Suu Kiy vencer por grande maioria e o partido preferido pelos militares a conseguir um resultado muito fraco.