12 fev, 2021 - 00:05 • Lusa
Veja também:
A pandemia e o seu impacto reforçaram a imagem positiva que os cidadãos têm da União Europeia, sendo que os portugueses são os segundos mais lisonjeiros, conclui o Eurobarómetro do Parlamento Europeu.
Realizado entre novembro e dezembro de 2020, junto de mais de 27 mil respondentes dos 27 Estados-membros da UE, o Parlómetro de 2020 (Eurobarómetro do Parlamento Europeu) analisa as perceções e perspetivas dos cidadãos europeus sobre as suas vidas, os seus países e as instituições comunitárias.
Em outubro do ano passado, quatro em dez dos inquiridos reconheciam que a pandemia já tinha produzido um impacto financeiro nas suas vidas, com outros 27% a preverem que tal aconteça no futuro. Metade antecipa que a sua situação financeira não irá melhorar no próximo ano e 24% acham mesmo que vai piorar.
Os números pioram se a pergunta for sobre as economias nacionais: mais de metade dos inquiridos (53%) preveem que a situação estará pior daqui a um ano.
Segundo a pesquisa, no final do ano passado, a incerteza era o sentimento mais comum entre europeus, que expressaram níveis sem precedentes de impotência, medo, raiva e frustração.
A pesquisa conclui que “o impacto económico da pandemia está a aumentar”, explicou Philip Schulmeister, chefe da Unidade do Acompanhamento da Opinião Pública do Parlamento Europeu, que hoje apresentou os principais resultados do inquérito numa sessão prévia para jornalistas.
Neste contexto, metade dos inquiridos têm uma “imagem positiva” da UE, o que representa um aumento de dez pontos em relação a 2019, e considera até que a UE vai mais na direção certa do que os seus países (39% contra 33%).
A pertença à União é vista como “uma coisa boa” por 63% dos inquiridos, uma percentagem recorde desde 2007, mas isso não significa carta branca.
A pesquisa salienta que se verifica “uma clara valorização da UE enquanto espaço para procurar e adotar soluções para a crise”. Porém, “se há um claro apoio geral à UE no seu conjunto, também há uma vasta maioria que quer que a União Europeia mude a sua forma de funcionar”.
Pouco mais do que dois em dez inquiridos acham que a UE está bem como está, avaliação que os autores da pesquisa consideram fundamental para a Conferência sobre o Futuro da Europa que vai ser lançada durante a presidência portuguesa do Conselho da UE, neste semestre.
Quase metade dos inquiridos questiona o rumo europeu (45%), percentagem que desce para 36% nos inquiridos entre os 16 e os 24 anos.
Se há um maior apoio à UE enquanto ator global, reforçado com a resposta à pandemia, a maioria dos cidadãos não está satisfeita e exige reformas (44%).
Perto de três quartos (72%) acreditam que o plano de recuperação da UE vai ajudar as economias nacionais a recuperarem mais rapidamente dos efeitos adversos da pandemia.
“A pandemia de Covid-19 e a resposta europeia parecem ter reforçado a crença dos cidadãos de que a UE é o sítio certo para encontrar soluções”, salienta o estudo, assinalando que 66% dos inquiridos estão otimistas quanto ao futuro a prazo da União.
Já o mesmo não se pode dizer sobre o futuro mais imediato, com os europeus pouco esperançosos em que a situação melhore no próximo ano.
Questionado pela Lusa, Philip Schulmeister referiu que a maior diferença entre os países do Norte e Sul da Europa é que, nos primeiros, “a expectativa sobre a resposta da UE é mais elevada”, enquanto os segundos têm “a perceção de que as pessoas foram mais afetadas pela pandemia”.
Segundo o inquérito, existe ainda um “hiato significativo entre Ocidente e Oriente” na forma como as pessoas anteveem a evolução das suas condições de vida no próximo ano.
Os mais pessimistas são Eslováquia, Grécia, Roménia, Bulgária e Eslovénia, com taxas entre 43 e 35 por cento. No outro extremo, apenas 7% dos dinamarqueses e dos holandeses partilham do pessimismo.
A perceção piora se da situação individual se passar para a situação económica nacional – quase dois terços dos cidadãos na Letónia, França e República Checa estão pessimistas sobre o próximo ano, enquanto 42% dos malteses e 39% dos irlandeses esperam que a economia nacional melhore.
Esta preocupação influencia as prioridades políticas e os valores fundamentais para os cidadãos: quase metade consideram que o combate à pobreza e às desigualdades sociais deve ser a principal prioridade (48%), seguindo-se o terrorismo e crime organizado, o acesso universal à educação e a defesa do ambiente.
A solidariedade entre Estados-membros chega pela primeira vez ao pódio dos valores fundamentais, ficando na terceira posição, a seguir da defesa dos direitos humanos e da igualdade entre mulheres e homens.
Também o Parlamento Europeu sai mais reforçado do que nunca – 63% gostavam que tivesse um “papel mais importante”.
Porém, se mais de metade dos inquiridos reconhece que a democracia europeia funciona (56%), 51% consideram que a sua voz não conta.
Questionado sobre a influência da data em que a sondagem foi realizada, na altura do anúncio das vacinas contra a Covid-19, Philip Schulmeister disse não ter dados sobre isso, mas admitiu que pode ter tido um impacto na imagem positiva da UE e que a crescente insatisfação face à forma como as autoridades públicas estão a lidar com a pandemia, nomeadamente as campanhas de vacinação, poderá produzir resultados ligeiramente diferentes mais à frente.
Também a conclusão das negociações da saída do Reino Unido e as presidenciais nos Estados Unidos “poderão ter um impacto na opinião pública” europeia que este inquérito ainda não mede.