Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Guerra na Síria. ONU denuncia 10 anos de crimes e "negligência internacional"

18 fev, 2021 - 10:37 • Lusa

Conflito obrigou metade da população a abandonar o local de residência e condena a extrema pobreza seis em cada dez cidadãos do país.

A+ / A-

A Missão de Investigação das Nações Unidas para a Síria apresentou um relatório "sobre dez anos de crimes de guerra" no país, levados a cabo por todas as fações, com a ajuda da "negligência internacional".

O relatório é o 33.º documento da mesma missão de investigação e vai ser apresentado formalmente perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU no dia 11 de março, pouco antes da data que assinala os dez anos do conflito sírio.

O texto refere que a guerra obrigou metade da população a abandonar o local de residência e condena a extrema pobreza seis em cada dez cidadãos do país.

"As crianças, mulheres e homens da Sírias pagaram o preço imposto por um regime autoritário que atuou violentamente para neutralizar a dissidência, enquanto o oportunismo de alguns atores estrangeiros, através do financiamento, armas e outras 'influências' avivou um fogo que o mundo se limitou a ver", acusou o presidente da missão, o brasileiro Paulo Pinheiro.

O documento de 31 páginas conclui que desde março de 2011 a população civil sofreu abusos que em alguns casos constituem "crimes de guerra, contra a humanidade e outros delitos internacionais, incluindo o genocídio".

O mesmo relatório sublinha que regime de Bashar al Assad tirou partido da suposta luta contra o terrorismo para bombardear indiscriminadamente alvos civis, incluindo hospitais, instalações médicas, escolas e tendas de refugiados.

"O Exército sírio, assim como a Força Aérea da Rússia (país aliado do regime de Damasco), atacaram zonas de habitação, incluindo mercados em pleno dia, com artefactos explosivos de amplo alcance, assassinando e ferindo civis em ataques que indiciam crimes de guerra", frisa a investigação.

Segundo as Nações Unidas, os ataques contra civis também foram levados a cabo por outros intervenientes no conflito como o grupo radical Estado Islâmico, milícias curdas, a aliança islâmica Hayat Tharir al Sham (a antiga Frente al Nusra) ou a coligação apoiada pelos Estados Unidos.

A ONU denuncia também que durante dez anos foram detetados 38 ataques com armas químicas, 32 dos quais pelas forças governamentais sírias e um pelo grupo Estado Islâmico.

Longe da frente de batalha foram habituais as execuções e mutilações de soldados, tanto pelo Exército sírio como pelas forças da oposição e pelos radicais do Estado Islâmico, assim como se verificaram ataques, ameaças e assassínios de jornalistas.

Outros crimes que se encontram documentados pela ONU incluem saques, ataques contra o património cultural (especialmente por parte do Estado Islâmico, "mas não exclusivamente"), cercos a cidades ou bloqueios à ajuda humanitária.

Dos 22 milhões de pessoas que habitavam a Síria antes da guerra, mais de 11,5 milhões encontram-se deslocados e cinco milhões encontram-se refugiados noutros países, nomeadamente na Turquia, Jordânia, Líbano, Egito e Turquia.

O relatório termina com um novo pedido de cessar-fogo permanente, sob a supervisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas, assim como defende processos judiciais sobre crimes cometidos no país em guerra.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+