19 fev, 2021 - 22:54 • Lusa
O secretário-geral da ONU classifica o regresso dos Estados Unidos ao Acordo climático de Paris como um “dia de esperança”, lembrando, porém, os muitos compromissos ainda por cumprir e a emergência de atuar perante tantos “sinais de alerta”.
No dia em que tomou posse, em 20 de janeiro, o Presidente norte-americano, Joe Biden, reverteu a decisão da anterior administração liderada por Donald Trump em relação ao Acordo de Paris e assinou uma ordem executiva a determinar o regresso dos Estados Unidos da América (EUA) ao protocolo climático alcançado numa cimeira na capital francesa em dezembro de 2015.
O regresso norte-americano ao acordo tornou-se oficial esta sexta-feira.
“Hoje é um dia de esperança, uma vez que os Estados Unidos voltam a juntar-se oficialmente ao Acordo de Paris. É uma boa notícia para os Estados Unidos e para o mundo”, referiu António Guterres, em declarações durante um evento que assinalou a (nova) adesão norte-americana.
Para Guterres, durante os últimos quatro anos, a ausência dos EUA, um “ator-chave”, criou “uma lacuna” no acordo climático e esse elo em falta “enfraqueceu o todo”.
O representante lembrou que o Acordo de Paris, que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016, foi um “feito histórico”, mas, segundo lamentou, os compromissos assumidos até à data não foram suficientes e mesmos esses não estão a ser cumpridos.
“Os sinais de alerta estão em toda a parte. Os seis anos que passaram desde 2015 foram os seis anos mais quentes de que há registo. Os níveis de dióxido de carbono (CO2) estão em níveis recorde. Incêndios, inundações e outros eventos climáticos extremos estão a piorar em todas as regiões”, enumerou o secretário-geral da ONU, sem esquecer um possível “aumento catastrófico” da temperatura em mais de três graus no atual século.
Segundo Guterres, que durante o seu mandato fez da questão das alterações climáticas uma das suas prioridades, o ano de 2021 é “crucial”, focando a importância da futura 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26) em Glasgow (Escócia, Reino Unido), prevista para novembro.
“A COP26 será um sucesso ou um fracasso. Os Governos irão tomar decisões que vão determinar o futuro das pessoas e do planeta”, frisou o representante, dirigindo palavras concretas aos EUA que, “juntamente com todos os membros do G20 [as 20 maiores economias do mundo]”, irão ter um papel decisivo na realização dos objetivos traçados.
Três objetivos centrais estão atualmente traçados: criar uma verdadeira coligação (de países) global para zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, alcançar um empenho internacional (com contribuições e medidas concretas) para que exista um progresso exponencial na redução de emissões na próxima década e aproveitar o período pós-pandemia covid-19 para uma reconstrução mais “forte e melhor” e para uma mudança verdadeiramente “transformadora”.
Em relação ao terceiro objetivo, Guterres reiterou a necessidade de o mundo investir numa “economia verde” que ajude “a curar o planeta e a população” e “a criar empregos estáveis e bem remunerados para assegurar uma prosperidade mais equitativa e sustentável”.
Nesse sentido, segundo especificou o representante, a eliminação gradual do carvão, a suspensão de investimentos em projetos de combustíveis fósseis prejudiciais para a saúde das pessoas e para a biodiversidade ou a aplicação de novas políticas tributárias (dos consumidores aos poluidores) serão algumas das medidas necessárias para alcançar “uma mudança transformadora”.
Guterres focou ainda a necessidade de diminuir a lacuna financeira verificada no mundo atual, defendendo o apoio aos países que estão a sofrer os impactos devastadores da crise climática.
“Estou a contar com os EUA, juntamente com todos os outros membros do G20, para apoiarem estes três objetivos principais e para se comprometerem nas negociações internacionais que serão necessárias para o sucesso da COP26”, referiu o secretário-geral, esperando, por exemplo, que a administração Biden apresente em breve os seus planos concretos para alcançar zero emissões líquidas até 2050.
Na fase final da intervenção, António Guterres recordou que o atual enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, quando assinou em 2016 nas Nações Unidas o Acordo de Paris (então na qualidade de secretário de Estado) levou a neta consigo.
“O Acordo de Paris é o nosso pacto com os nossos descendentes e com toda a família humana. Esta é a corrida das nossas vidas. Devemos ir muito mais rápido e muito mais longe”, salientou o representante, terminando com a frase: “Vamos ao trabalho”.
Uma das principais metas estabelecidas em 2015 pelo Acordo de Paris era limitar o aumento da temperatura média mundial “bem abaixo” dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e em envidar esforços para limitar o aumento a 1,5ºC.