21 fev, 2021 - 23:02 • Lusa
O Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, apela ao combate contra antissemitismo e sublinha o papel proeminente dos judeus em 1.700 anos de história da Alemanha, que se comemoram neste 2021, e cuja celebração começou este domingo em formato virtual.
"Se posso pedir-me alguma coisa enquanto Presidente é que faça a afirmação clara de que os judeus na Alemanha fazem parte de nós e que nos opomos resolutamente aos que continuam a colocar ou venham a colocar esta afirmação em dúvida", afirmou Steinmeier.
Num discurso na sinagoga de Colónia, a mais antiga congregação judaica do país, sem convidados devido à pandemia, o Presidente alemão observou que "a história dos judeus na Alemanha é uma história de emancipação e florescimento, mas também de humilhação, exclusão e privação de direitos".
Steinmeier classificou ainda como "fortuna imensurável" o facto de, décadas após o Holocausto, a vida judaica mais uma vez florescer na Alemanha, graças aos retornados, imigrantes da antiga União Soviética e a jovens israelitas, atraídos pelas oportunidades que o país oferece.
A vida judaica de hoje é "variada, diversa, viva, plena de ímpeto", mas "ainda sob ameaça", em tempos em que o antissemitismo "se mostra mais abertamente", em que um atacante alimentado pelo ódio ataca uma sinagoga cheia de gente num dia santo, disse ainda o chefe de Estado, referindo-se ao ataque antissemita de outubro de 2019 por um extremista de extrema-direita, em Halle.
O Presidente israelita, Reuven Rivlin, apelou pelo seu lado, através de uma mensagem de vídeo, à "tolerância zero" em relação a qualquer forma de antissemitismo.
Rivlin reconheceu que, nas últimas décadas, a Alemanha foi palco de um forte renascimento da vida judaica, mas também da perigosa ascensão de antigas e novas formas de antissemitismo, que devem ser combatidas, seja nas ruas, nos meios de comunicação social, na internet ou na política.
O chefe de Estado israelita acrescentou que a história e o destino da Alemanha e do povo judeu estão ligados entre si há séculos, com tempos de "terríveis perseguições" mas também com fases em que esta história comum foi caracterizada pela "cooperação" e pela "tolerância".
Os 1.700 anos de história dos judeus na Alemanha remontam à primeira menção escrita desta comunidade, num decreto do imperador Constantino, no ano 321, dirigido ao conselho municipal de Colónia, segundo o qual os judeus podiam e deviam ser eleitos para os conselhos municipais.
"A comunidade judaica em Colónia é, assim, não apenas a mais antiga da Alemanha, mas também em toda a região a norte dos Alpes", sublinhou, também por mensagem vídeo, Armin Laschet, o chefe do governo do estado da Renânia do Norte-Vestefália, ao qual a cidade, a quarta maior do país, com 1,09 milhões de habitantes, pertence.
O ato virtual na sinagoga de Colónia marca o início de um ano comemorativo, organizado pela associação "321: 1.700 anos de vida judaica na Alemanha", e patrocinado pelo Presidente alemão.
As comemorações incluem cerca de mil eventos e projetos tais como concertos, exposições, um "podcast" e várias propostas musicais, teatrais e audiovisuais.
O ministério alemão da Cultura atribuiu 1,6 milhões de euros a este programa. A ministra da pasta, Monika Grütters, sublinhou, numa declaração, que, depois dos crimes dos nazis e do Holocausto, a vida judaica na Alemanha é "uma dádiva e um grande gesto de confiança", e apelou a que seja defendida contra qualquer provocação antissemita e de ultradireita.