01 mar, 2021 - 10:21 • Olímpia Mairos , Miguel Coelho (entrevista)
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Carlos Jurado tem 37 anos, é espanhol e vive em Madrid. A frustração ou impotência face a uma pandemia que atinge todo o mundo e a vontade em contribuir ativamente para o combate à Covid-19 levou-o a voluntariar-se para fazer parte dos ensaios clínicos da vacina CureVac.
Em entrevista à Renascença, Carlos Jurado conta que a decisão surgiu após uma conversa com uma prima, em que ambos partilharam a frustração sentida e o desejo em terem um papel mais ativo.
“Em Espanha, como no resto do mundo, temos estado em casa. Eu moro junto à serra de Madrid, longe da cidade, não vejo ninguém e esta frustração mexe com o interior, provoca uma energia que leva a agir”. E foi isso que partilhei com a minha prima, explica o espanhol.
Depois, Carlos Jurado soube que no Hospital S. Carlos, em Madrid, estavam a fazer ensaios clínicos da vacina CureVac. Foi o bastante para se decidir, mas não sem antes se documentar sobre a vacina.
“Estive a ler um bocadinho sobre a vacina. É uma tecnologia muito parecida com a vacina da Pfizer, que usa RNA mensageiro. É uma vacina que parece bastante boa, porque é muito mais fácil de conservar e de transportar e que vai ser muito mais económica”, afirma, acrescentando que foi então “falar com os médicos do ensaio”, tendo entrado no processo.
Carlos Jurado admite que teve receio dos possíveis efeitos secundários, que podem ser semelhantes aos da Covid-19, mas, mesmo assim, nunca pensou em desistir. Em jeito de brincadeira, confessa que o que mais o preocupou foi pensar que podia “perder o olfato e o paladar” e, para ele, “a comida é muito importante”.
“Sem brincar, há alguns aspetos que eram preocupantes, mas, mesmo assim, a minha frustração é muito maior, assim com a minha vontade em ajudar ativamente”, destaca o espanhol.
Carlos Jurado tomou a vacina – ou o placebo, não sabe – há uma semana e “correu muitíssimo bem”. Não tem “nenhum sinal no braço” e também não tem “nenhum sintoma”.
“Nós estamos ali numas cadeirinhas junto à sala do médico e alguns levam o placebo, uma vacina de água, outros levam a vacina. Eu não sei o que levei. É uma lotaria. Os próprios médicos dizem mesmo para não termos esperança de ficarmos vacinados”, conta.
O espanhol explica ainda que tem uma aplicação no telemóvel, do ensaio clínico, onde tem que colocar toda a informação sobre o seu percurso de saúde.
“E, se não respondemos, o médico liga pelo telefone. É bastante controlador, mas eu acho que é importante neste caso. Além disso, temos entrevistas com os médicos e sempre que formos ao médico, temos que ligar primeiro aos responsáveis do ensaio clínico. São tipo os nossos médicos privados e falam connosco muito frequentemente”, acrescenta o espanhol.
À Renascença, Carlos Jurado afirma que não recebeu qualquer contributo financeiro para participar nos ensaios clínicos. Apenas são garantidas as despesas relacionadas com a deslocação.
Carlos Jurado é coordenador académico de uma universidade privada dos EUA, em Madrid, a Hamilton College, e já morou em Lisboa, há 12 anos. Ao voltar, ficou tão apaixonado pelo país que tirou o curso de filologia portuguesa, na Universidade de Granada. Vem a Portugal todos os anos, uma ou duas vezes.
Atualmente, há mais de 60 vacinas em fase de teste e outras 170 a caminho desse patamar. Para que estas vacinas sejam autorizadas, têm de ter uma eficácia comprovada e, nesse aspeto, o papel de milhares de voluntários que participam nos ensaios clínicos tem sido fundamental.