16 mar, 2021 - 08:56 • Marta Grosso
O primeiro-ministro britânico divulga, nesta terça-feira de manhã, a nova política externa britânica pós-Brexit, incluindo as orientações para a segurança, defesa e desenvolvimento internacional.
“Revisão Integrada de Defesa, Segurança, Ajuda ao Desenvolvimento e Política Externa”, assim se chama o documento de 100 páginas tido como a revisão mais abrangente das políticas internacionais do Reino Unido desde o fim da Guerra Fria.
Ali são definidos objetivos até 2030 e surge uma nova ênfase na região Indo-Pacífico, com Boris Johnson a planear uma visita à Índia no final de abril.
Segurança nacional, política externa e economia global, bem como orientações sobre como alcançar um papel mais ativo na promoção do sistema internacional liberal são algumas das componentes deste plano, a que a imprensa britânica já teve acesso.
Espera-se ainda uma estratégia para o investimento em investigação e nas indústrias de defesa de alta tecnologia, apoiada por um grande aumento nos gastos militares anunciados no outono passado.
Há, por outro lado, cortes no contingente militar e em equipamentos convencionais, como tanques e aeronaves. Já no que toca a ogivas nucleares, deverá haver um aumento das “Trident” de 180 para 260 – o primeiro aumento desde o fim da Guerra Fria.
O jornal “The Guardian” realça algumas áreas do plano que vai ser apresentado, a primeira das quais a postura perante a China e a Rússia: se os assuntos relativos à China são tratados com uma linguagem cautelosa, quando se fala de Moscovo, o tom muda.
“A crescente estatura internacional da China é, de longe, o fator geopolítico mais significativo do mundo hoje”, lê-se no documento que chegou à imprensa.
“O facto de a China ser um Estado autoritário, com valores diferentes dos nossos, apresenta desafios para o Reino Unido e nossos aliados”, refere o primeiro-ministro na Revisão Integrada, acrescentando que “a China contribuirá mais para o crescimento global do que qualquer outro país na próxima década, com benefícios para a economia global”.
Já no que respeita à Rússia, é descrita como a “ameaça mais aguda à segurança” britânica e um Estado hostil.
“Até que as relações com o governo melhorem, iremos dissuadir e defender ativamente contra todo o espectro de ameaças que emanam da Rússia”, refere Boris Johnson.
Talvez por isso Johnson justifique o aumento do stock de ogivas nucleares foi tomada “em reconhecimento ao ambiente de segurança em evolução, incluindo o desenvolvimento da gama de ameaças tecnológicas e doutrinárias”.
A Índia e o Pacífico é a região em destaque na “Revisão Integrada de Defesa, Segurança, Ajuda ao Desenvolvimento e Política Externa” – é “o motor de crescimento do mundo: lar de metade da população mundial; 40% do PIB global”.
Por isso, a “inclinação Indo-Pacífico” tem direito a duas páginas do documento, onde a região é ainda descrita como “o centro de intensificação da competição geopolítica com múltiplos pontos de inflamação potenciais”.
Nos planos de Boris Johnson está, além da visita em abril, o envio para a região do porta-aviões HMS Queen Elizabeth e do grupo de ataque de porta-aviões de apoio ao Indo-Pacífico ainda este ano. O documento não diz, contudo, se a intenção é navegar por águas disputadas, perto de ilhas artificiais construídas pela China no Mar da China Meridional.
Outro ponto da revisão da política externa e defesa pós-Brexit é a cibersegurança, prevendo-se que o será “um domínio cada vez mais contestado, usado por atores estatais e não estatais”, onde as capacidades de hacking se espalharão para mais países enquanto a dependência da infraestrutura digital aumenta.
Boris Johnson defende, como tem feito, a criação de uma força cibernética nacional, que combine capacidades militares e de inteligência em “hackeamento” ofensivo.
Para a semana, é esperada a divulgação de um documento sobre “guerra de alta tecnologia” com medidas a serem implementadas pelas Forças Armadas.
Espera-se ainda que o Reino Unido expanda a frota de drones para incluir drones letais, semelhantes aos usados pela Turquia, e outras tecnologias robóticas que levantam questões sobre o papel dos humanos na decisão de quando atirar, refere o “The Guardian”.