24 mar, 2021 - 00:26 • Lusa
As publicações científicas retiraram, desde janeiro, pelo menos 370 artigos fraudulentos escritos por encomenda por empresas, revela uma análise feita pela revista britânica "Nature".
Em março, os editores das publicações já enumeraram mais de 1.300 artigos científicos suspeitos.
Manipulação de gráficos ou imagens, endereços de correio eletrónico não académicos e detalhes de experiências que nunca podem ocorrer da forma como são descritos são alguns dos sinais de alerta.
O problema atingiu tais proporções que as publicações contrataram pessoas para sinalizarem os artigos falsos, como se fossem detetives.
O esquema das chamadas "fábricas de 'papers'" é difícil de provar, pelo que raramente os editores declaram num aviso de retratação de um artigo que o mesmo é fraudulento ou que foi escrito por encomenda por uma empresa.
Aos editores das publicações é recomendado que façam uma revisão mais rigorosa dos manuscritos, pedindo por exemplo aos seus autores dados brutos. Mas até estes dados podem ser falsificados, queixam-se os editores.
Num editorial publicado em fevereiro, a revista "Molecular Therapy" mencionava que "o volume crescente desta 'ciência lixo' está a causar danos na credibilidade da investigação proveniente da China e a lançar cada vez mais dúvidas sobre a ciência legítima" do país.
A questão da fraude organizada nos artigos científicos não é nova e não está circunscrita à China, em particular a artigos de autores vinculados a hospitais.
Segundo Catriona Fennell, que dirige os serviços de publicação na Elsevier, a maior editora científica do mundo, a produção de artigos falsos estende-se ao Irão e à Rússia.
Na tentativa de evitar mais escândalos, como o da retirada de 107 artigos da revista Tumor Biology devido a má conduta, a China ordenou em fevereiro às instituições que fazem investigação científica, incluindo hospitais, para que não promovam ou recrutem investigadores com base nos artigos que publicam e abstenham-se de pagar prémios pelos artigos publicados.