26 mar, 2021 - 01:02 • Lusa
Uma responsável das Nações Unidas alertou esta quinta-feira para a crise na região etíope de Tigray, referindo assassinatos de civis, mais de 500 casos de crimes sexuais e o aumento de deslocados e da insegurança alimentar.
Num encontro virtual junto de membros das Nações Unidas, Wafaa Saeed, coordenadora humanitária adjunta que passou dois meses em Tigray, disse que o impacto da crise ainda não é totalmente conhecido devido aos apagões das telecomunicações em grandes partes da região e ao difícil acesso em áreas rurais.
“Ainda assim, o que já é conhecido é bastante alarmante”, afirmou a responsável.
Na sua intervenção no encontro, Saeed assinalou que o os parceiros das Nações Unidas continuam a receber relatos de assassinatos premeditados de civis, violência sexual e violência de género, deslocamento forçado, restrição do movimento de civis e pilhagem extensiva de propriedade civil.
Em 4 de novembro, o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, Nobel da Paz em 2019, lançou uma operação militar na região de Tigray após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).
A operação foi apoiada pelas forças regionais de Amhara, região a sul de Tigray, para segurar grandes áreas após a retirada da TPLF. Estima-se também que esta tenha sido apoiada por tropas da vizinha Eritreia, inimigo jurado das TPLF, que terão tido um papel proeminente nos combates e que são acusadas de terem realizado massacres de civis.
Até agora, o número de mortos, entre civis e combatentes, nos conflitos que se iniciaram em novembro continua por definir.
A preocupação continua sobre o destino dos seis milhões de habitantes nesta região, próxima da fronteira com Sudão e Eritreia.
Em termos de acesso por pessoal de organizações de ajuda humanitária, Saeed afirmou que a situação é dificultada pela insegurança e por confrontos que continuam em múltiplas partes da região e que envolvem forças etíopes, eritreias, das TPLF e da vizinha região de Amhara.
Não sendo possível identificar a escala total de deslocados, Saeed afirmou junto dos diplomatas que os funcionários locais estimam que cerca de 950 mil pessoas tenham já fugido das suas casas e que cinco estabelecimentos médicos registavam, a meio de março, 516 casos de violação, devendo o balanço ser “muito maior”, uma vez que a maioria dos estabelecimentos de saúde não está a funcionar e também devido ao estigma associado aos abusos sexuais.