31 mar, 2021 - 15:04 • Olímpia Mairos
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O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, enfrenta a maior crise da sua presidência, após a demissão dos chefes do Exército, Marinha e Força Aérea.
A renúncia sem precedentes dos chefes de defesa é vista pelos analistas como um protesto contra as tentativas de Bolsonaro exercer controlo indevido sobre os militares.
A decisão dos chefes dos três ramos das Forças Armadas foi tomada após Jair Bolsonaro remodelar o Governo e afastar os ministros da Defesa, das Relações Exteriores e da Justiça.
Mas a crise política no Brasil poderá ter começado a 16 de março, com a nomeação de um novo ministro da Saúde, o quarto, desde o início da pandemia.
No turbilhão de demissões, seguiram-se, na segunda-feira, os ministros da Defesa e das Relações Exteriores, com este último a ser acusado de gerir mal as relações com a China, resultando na escassez de vacinas Covid-19.
Já o ministro da Defesa caiu, entre outras razões, por não ter acolhido a ideia de Bolsonaro de decretar ‘estado de sítio’ no Brasil, que suspende garantias individuais e dá plenos poderes ao presidente.
O Presidente da República queria responder com esse estado de exceção às medidas de restrição à circulação, promovidas por governadores de estados, para fazer face ao pior momento da pandemia no Brasil.
A popularidade de Bolsonaro, contudo, desceu a pique, em grande parte por causa da sua resposta à Covid-19. Segundo um estudo da Datafolha, instituto de pesquisas do Grupo Folha, 43% dos brasileiros consideram que Bolsonaro é o culpado pela crise da Covid-19.
O Brasil tem atualmente o segundo maior número de casos confirmados de Covid, com mais de 12,6 milhões. Quase 314.000 pessoas morreram, tendo-se registado um novo recorde diário de 3.780 vítimas mortais, na última terça-feira.
Já no início deste mês, o instituto de saúde público Fiocruz tinha alertado que “o sistema de saúde estava à beira do colapso, com mais de 80% das camas das unidades de terapia intensiva ocupadas, na maioria dos estados do país”.
Preocupantes são também as declarações à BBC, do epidemiologista do estado do Rio Grande do Sul, Pedro Hallal, ao afirmar temer que o Brasil “possa tornar-se uma ameaça à saúde pública global”.
Recorde-se que o presidente do Brasil se tem oposto sistematicamente às medidas de restrição para combater a epidemia, argumentando que os prejuízos para a economia seriam piores do que os efeitos do novo coronavírus.
Contudo, na semana passada, Bolsonaro, que anteriormente levantou dúvidas sobre as vacinas e defendeu medicamentos não comprovados como tratamento, anunciou que faria de 2021 o ano das vacinações.
Até ao momento, o Brasil vacinou pouco mais de 8% da população, com cerca de 17,7 milhões de doses de vacina distribuídas.