14 abr, 2021 - 12:04 • Marta Grosso com Reuters
As vacinas da Astrazeneca e da Janssen/Johnson&Johnson usam vetores adenovirais (tal como a CanSino Biologicals e a Sputnik V). É uma tecnologia é diferente da do RNA mensageiro, utilizada pela Pfizer e pela Moderna.
Os cientistas pegam num adenovírus (uma grande família de vírus existente em humanos e outros animais e que podem causar a constipação comum) e removem qualquer material genético que possa permitir que o vírus se espalhe ou cause doenças.
Inserem então instruções genéticas sobre como criar um alvo na superfície de outro vírus – no caso da Covid-19, usam as instruções para fazer a “proteína do pico” na superfície do vírus SARS-CoV-2.
Para o sistema imunitário, um vetor adenoviral parece um vírus grave, pelo que existe uma reação, e é por isso que existem efeitos secundários mais percetíveis, como febre, fadiga e dor no braço, alguns dias após a vacina.
Mas diferentes adenovírus usam diferentes pontos de acesso (conhecidos como recetores), para entrar nas nossas células, o que pode resultar respostas imunitárias muito diferentes. Embora os vetores possam partilhar algumas características, também podem ser biologicamente muito diferentes.
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Ora, cada uma destas vacinas com vetores adenovirais utiliza um diferente tipo de adenovírus. A Sputnik V e a CanSino usam um chamado "rAd5"; a J&J usa o chamado “rAd26”, que instrui as células a fazer uma proteína de pico, que é bloqueada de uma forma específica para ajudar o sistema imunológico a reconhecê-la, e é entregue à superfície da célula; a AstraZeneca usa o “chAdOx01”, que instrui a célula a fazer uma proteína de pico que não está travada no lugar e pode ser segregada pela célula.
Por isso, cada vacina adenoviral está associada a um determinado efeito no organismo – como seja coágulos sanguíneos. Não significa, contudo, que todas as vacinas desta família tenham o mesmo efeito. É, contudo, algo a ser investigado pelos reguladores.
Não existem ainda conclusões sobre a relação entre uma “trombocitopenia trombótica imune induzida por vacina” (VITT, na sigla em inglês) e as vacinas. Para já, tudo indica que o aparecimento de coágulos em pessoas vacinadas com a AstraZeneca e a Johnson&Johnson será causado por uma resposta imune pouco comum.
Esta reação tem sido verificada entre quatro e 20 dias após a inoculação.
Para já, os reguladores têm adotado uma atitude cautelosa e desaconselhado estas vacinas a menores de 55 anos e pedindo mais vigilância sobre as outras pessoas.
Pretendem, assim, encontrar um equilíbrio entre um risco, considerado muito raro, de tromboses (VITT) e o risco real de morte e doença, causado com pela Covid-19.
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Segundo a EudraVigilance, o sistema europeu de monitorização de efeitos adversos dos medicamentos, a maior parte dos efeitos secundários relatados em Portugal decorrem da vacina da Pfizer: 3.000, de um total de 3.650 notificações.
No caso da AstraZeneca, os relatos representam 15% do total (cerca de 500).
É, contudo, importante referir que, de acordo com os dados disponibilizados pela mesma fonte, a maioria das vacinas administradas em Portugal ainda são da farmacêutica norte-americana (1,4 milhões de doses de Pfizer), enquanto à AstraZeneca correspondem 388 mil doses.
Em termos europeus, são mais as mulheres a sofrer os efeitos secundários das vacinas, representando quase 75% das notificações recebidas relativas à AstraZeneca.