14 abr, 2021 - 21:34 • Lusa
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou esta quarta-feira que as tropas da Aliança irão começar a sair do Afeganistão a 1 de maio, prevendo a retirada total da Aliança do país nos meses que se seguirão.
“Tendo em conta a decisão dos Estados Unidos de sair [do Afeganistão], os ministros dos Negócios Estrangeiros e de Defesa da NATO discutiram esta quarta-feira o caminho a seguir e decidiram que iremos começar a retirada das forças da missão ‘Resolute Support’ da NATO a 1 de maio”, anunciou Stoltenberg.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) falava em conferência de imprensa em Bruxelas, junto do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e do secretário de Defesa, Lloyd Austin, após uma sessão do Conselho do Atlântico Norte, convocada com urgência pelos Estados Unidos e em que participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros e de Defesa da Aliança.
Numa declaração quase sincronizada com a do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que anunciou poucos minutos antes que os soldados norte-americanos se retirarão do Afeganistão até 11 de setembro, Stoltenberg indicou que a saída das tropas será feita de maneira “ordenada, coordenada e deliberada”.
“Contamos concluir a retirada de todas as nossas tropas no espaço de alguns meses. Qualquer ataque dos talibãs às nossas forças durante esse período conhecerá uma resposta vigorosa”, apontou Stoltenberg.
O secretário-geral da Aliança frisou também que a saída das tropas da Aliança se prende com a decisão de que a NATO foi para o Afeganistão “junta, ajustou a postura de maneira conjunta e vai sair junta”.
Stoltenberg reconheceu, no entanto, que sair do Afeganistão não foi “uma escolha fácil” e “cria riscos”, mas ressalvou que não se trata do “fim da relação” da NATO com o país, mas antes o início “de um novo capítulo”.
“Os aliados e parceiros da NATO irão manter-se ao lado do povo afegão. Mas agora ao cabe ao povo [afegão] construir uma paz sustentável, que põe fim à violência, salvaguarda os direitos humanos de todos os afegãos – em particular, as mulheres, as crianças e as minorias – respeita o Estado de direito, e assegura que o Afeganistão não volta a tornar-se num porto seguro para terroristas”, sublinhou.
Joe Biden anunciou esta quarta-feira que as tropas dos Estados Unidos irão sair do Afeganistão até dia 11 de setembro, antes do vigésimo aniversário dos ataques nos Estados Unidos que motivaram a intervenção inicial.
Apesar de retirarem as tropas do Afeganistão, tal como a antiga administração de Donald Trump tinha acordado em fevereiro de 2020 com os talibãs, os Estados Unidos não cumprem a data estipulada nesse entendimento, que ditava que a retirada de tropas teria de ocorrer até dia 1 de maio.
Em resposta, os talibãs ameaçaram hoje boicotar todas as negociações de paz com o Governo afegão – que ocorrem em Doha – e retomar os ataques às tropas internacionais se os Estados Unidos não cumprirem o acordado.
A NATO envolveu-se no Afeganistão em 2001, após os Aliados terem invocado, a 12 de setembro e pela primeira vez na história da Aliança, o artigo 5.º do tratado do Atlântico Norte – o princípio de defesa coletiva, que determina que um ataque contra um ou mais dos membros da NATO é considerado um ataque contra todos –, em seguimento dos ataques de 11 de setembro de 2001 perpetrados pela Al Qaeda nos Estados Unidos.
Em agosto de 2003, a Aliança assumiu o comando de uma missão militar intitulada Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF, na sigla em inglês), mandatada pela ONU.
Dirigida pela NATO até ao final de 2014, tornou-se na mais longa missão da história da Aliança e mobilizou, no seu pico, 130 mil militares no terreno.
Atualmente, encontram-se cerca de 9.600 soldados dos Aliados no Afeganistão, no âmbito da missão “Resolute Support” – que substituiu, em 2015, a ISAF – e em que Portugal participa através do destacamento de 174 militares, segundo dados comunicados pela Aliança em fevereiro de 2021.
Desde o início da guerra no Afeganistão, estima-se que morreram cerca de 3.500 militares da NATO, dos quais 2.400 eram norte-americanos.