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Estados Unidos

"Culpado". Derek Chauvin foi condenado pela morte de George Floyd

20 abr, 2021 - 22:08 • Hélio Carvalho

Derek Chauvin pressionou o pescoço de George Floyd durante mais de oito minutos. Floyd acabaria por morrer asfixiado e tornou-se no rosto da luta contra a discriminação racial e da violência policial em todo o mundo. Sentença será conhecida dentro de oito semanas.

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Menos de um ano depois da morte de George Floyd, a luta contra a discriminação racial contra negros nos Estados Unidos vê uma vitória na justiça. Derek Chauvin, polícia durante 19 anos em Minneapolis, foi considerado culpado pelo morte de Floyd esta terça-feira em três crimes de homicídio diferentes.

A condenação é uma vitória esmagadora para ativistas pelo mundo inteiro. para quem o rosto de Floyd e as suas palavras, “não consigo respirar”, se tornaram num símbolo contra o racismo.

Chauvin só conhecerá a sua pena daqui a cerca de dois meses. Antes, vem o possível recurso da defesa e o juiz terá de determinar se as circunstâncias merecem que o antigo polícia receba uma pena mais pesada. Além disso, caberá ao juiz decidir se Chauvin aguarda pela decisão sobre a pena a cumprir na cadeia ou em prisão domiciliária.

O crime de homicídio em segundo grau, não-intencional, tem uma pena máxima de 40 anos de prisão, mas Chauvin, que tem um cadastro limpo até à morte de Floyd e é um antigo agente policial, deverá ter uma pena muito menor. Segundo o New York Times, tanto o crime de homicídio em segundo grau não-intencional como o crime de homicídio em terceiro grau, que são duas das acusações, têm uma pena base de 12,5 anos de prisão.

Já o crime de ofensa à integridade física agravada, acusação de que Derek Chauvin também foi alvo, tem uma pena máxima de dez anos, mas a pena provável nesses casos é de quatro anos.

Chauvin foi considerado culpado dos três crimes pelos 12 júris, que deram o veredicto histórico.

Minneapolis está preparada para motins

O julgamento de um dos casos mais mediáticos dos últimos anos foi tão tumultuoso como se esperava. Houve protestos antirracistas durante todos os 14 dias que durou o julgamento e, na mesma cidade e próximo do local onde Floyd foi morto, outro jovem negro, Daunte Wright, foi morto pela polícia (o que só causou ainda mais protestos).

O julgamento arrancou sem a presença dos restantes três agentes envolvidos na morte de Floyd. Esses serão julgados em conjunto, em agosto.

Pelo centro ansioso de Minneapolis, vários estabelecimentos comerciais tomaram precauções que já se tornaram habituais quando a polícia confronta fisicamente protestantes antirracistas e do movimento Black Lives Matter. Antes de se saber o veredicto, as lojas da cidade forraram montras e portas com tábuas de madeira, prevendo possíveis motins caso Chauvin fosse ilibado, e a sede da polícia estatal foi vedada com barreiras de betão.

As autoridades estatais pediram paz e paciência, e o governador do estado do Minnesota, Tim Walz, declarou o estado de “emergência pacífica” de modo a poder ser auxiliado por três mil soldados da Guarda Nacional e vai fazer um comunicado após a leitura da sentença. As escolas da cidade também passaram ao ensino remoto durante esta semana.

Com o veredicto agora conhecido, a existirem protestos não será a pedir justiça pela morte de Floyd. Essa, para já, está em parte garantida: Derek Chauvin foi condenado e é um homicida aos olhos da justiça americana, pelo menos até chegarem os recursos da defesa.

“Acreditem nos vossos olhos”

Duas frases separaram a acusação da defesa. Se o advogado da defesa implorou ao jurado: “Acreditem nos vossos olhos”; a acusação vincou aos júris: “Não se deixem ser enganados por uma única imagem parada”.

Durante o julgamento, a acusação procurou demonstrar ao jurado que Derek Chauvin não cumpriu o treino de polícia ao ajoelhar-se em cima do pescoço de Floyd durante tempo, enquanto tinha a vítima detida e algemada atrás das costas.

“Isto não foi policiamento, isto foi homicídio”, disse um dos advogados da acusação, Steve Schleicher, no depoimento final que durou quase duas horas.

A acusação também salientou que a vítima obedeceu às ordens judiciais até pedir ajuda quando foi empurrado para dentro do carro-patrulha e tratou os polícias com respeito, repetindo a expressão “senhor agente”.

Do lado do antigo polícia, a defesa pediu aos júris que tivessem em conta os 17 minutos anteriores à morte de George Floyd – nos quais Floyd estava sob a influência de drogas e resistiu à detenção das autoridades. O advogado de Chauvin, Eric Nelson, também referiu que os polícias foram pressionados por protestantes que cercaram a cena do crime e filmaram o acontecimento.

Mas as provas da acusação foram mais fortes. No banco das testemunhas estiveram familiares da vítima, médicos legistas que demonstram que a morte de Floyd só podia ter sido provocada por asfixia e autoridades policiais que apontaram que a conduta de Chauvin não cumpriu o protocolo e o treino corretos.

Além disso, a defesa mostrou vários vídeos que passaram nos ecrãs dos tribunais – uns foram vistos por todo o mundo e motivaram os protestos antirracistas, enquanto que outros foram imagens inéditas da morte de Floyd.

Depois do depoimento da defesa, a acusação terminou o julgamento dizendo que “não é preciso um doutoramento, não é preciso ser médico para perceber o quão fundamental é respirar para viver”.

"Foi-vos dito que o senhor Floyd morreu porque o seu coração era muito grande. A verdade é que George Floyd morreu porque o coração do senhor Chauvin era demasiado pequeno”, concluiu o advogado da acusação.

O júri reuniu durante dez horas, de segunda a terça-feira, até chegar ao veredicto final: culpado/não culpado.

[Notícia atualizada às 22h12]

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