26 abr, 2021 - 23:10 • Lusa
Veja também:
O aumento de casos de Covid-19 na Faixa de Gaza ameaça sobrecarregar os hospitais do enclave palestiniano, enfraquecidos por anos de conflito e pelo bloqueio israelita, indicam responsáveis.
“A situação é crítica”, resume Rami al-Abadelah, médico e diretor do serviço de infeções no Ministério da Saúde do governo do Hamas, movimento islâmico palestiniano que controla Gaza.
O aparecimento no início de março da variante identificada no Reino Unido – mais contagiosa que anteriores estirpes – no território densamente povoado favoreceu a transmissão entre os mais jovens e uma explosão do número de infeções.
Gaza, com dois milhões de habitantes, registou a semana passada um recorde de 23 mortos num único dia, de um total de cerca de 830 desde o início da pandemia.
O número total de 100 mil infeções deve ser ultrapassado esta semana, mas apenas 3.200 testes são realizados diariamente, revelando uma taxa de positividade de 36%, uma das mais elevadas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.
“Oficialmente são cerca de 1.000 casos por dia, mas provavelmente são 5.000 ou mais porque as pessoas não vão ao hospital e não nos ligam para dizer que têm sintomas. Estas pessoas contaminadas passeiam-se nos mercados, entram em contacto com outras pessoas e o vírus propaga-se”, explica Abadelah, citado pela agência France Presse.
“Além disso, os hospitais estão em péssimo estado”, adianta.
O Hospital Europeu na cidade de Khan Younis, o principal centro de tratamento para doentes Covid, está a ficar sem recursos. Segundo o seu diretor, Yousef al-Aqqad, 118 das 150 camas estão ocupadas por doentes em estado grave.
O Hospital Shifa, o maior de Gaza, tem 100 camas para doentes Covid, incluindo 12 de cuidados intensivos. Foram adiadas algumas cirurgias e encerrado o serviço de ambulatório.
O Ministério da Saúde disse que quase toda a Faixa de Gaza foi designada de “zona vermelha” devido à alta transmissão do coronavírus na comunidade.
Face aos contágios, o governo do Hamas impôs um recolher obrigatório a partir das 19:00 para tentar impedir as famílias de se reunirem após o pôr-do-sol para a refeição de quebra do jejum do Ramadão, que está a decorrer.
A grave escassez de vacinas representa outro desafio.
“Recebemos 110 mil doses, mas precisamos de mais 2,6 milhões”, estima Abadelah.
Israel, cuja campanha de vacinação é considerada um sucesso a nível mundial, tem sido muito criticado por se recusar a aceitar a responsabilidade pela imunização dos palestinianos, o que lhe compete como potência ocupante, segundo várias organizações de direitos humanos.