30 abr, 2021 - 10:51 • Lusa
Os efeitos da pandemia e da crise política em Myanmar (ex-Birmânia) desencadeada pelo golpe de Estado podem levar 25 milhões de habitantes a situações de pobreza em 2022, alertou a ONU.
O relatório com o título "Covid-19, golpe de Estado e pobreza: efeitos negativos combinados e o impacto no desenvolvimento humano na Birmânia" alerta que os dados referentes às pessoas mais carenciadas do país podem recuar aos valores registados em 2005, após uma década de algumas melhorias económicas.
"Durante 12 anos, de 2005 a 2017, o país conseguiu reduzir a metade o número de pessoas que vivem na pobreza. Mas os desafios dos últimos 12 meses colocam em risco todos estes avanços em matéria de desenvolvimento, que tanto custaram a atingir", assinala Achim Steiner, administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
O impacto da pandemia já afetou a débil economia birmanesa: até finais de 2020, 83% das famílias registaram uma queda de 50% nos ganhos relativos ao trabalho, de acordo com a análise do PNUD.
À crise sanitária junta-se o golpe de Estado militar de 1 de fevereiro e a brutal repressão das forças de segurança contra as manifestações e que pode causar um aumento da pobreza, indica o organismo das Nações Unidas.
Os militares no poder enfrentam um movimento de desobediência civil que paralisou uma grande parte da economia e da administração pública.
Sem instituições democráticas que funcionem, Myanmar “enfrenta um recuo trágico e evitável que pode conduzir a níveis de pobreza nunca vistos na última geração", refere Steiner.
De acordo com as previsões, em 2021 o número de pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza pode alcançar chegar aos 12 milhões, um quarto da população, e se continuar a instabilidade pode atingir 25 milhões de habitantes em 2022.
As mulheres e as crianças sofrem a pior parte da crise e a taxa de pobreza vai triplicar-se, de acordo com o mesmo estudo.
"Estamos a ser testemunhas de uma crise agravada de uma força e complexidades sem precedentes", sublinha Kanni Wignaraja, diretor regional do PNUD para a Ásia e Pacífico.
Desde a tomada do poder pelos militares, as forças de segurança de Myanmar reprimem de forma violenta as manifestações. Até ao momento morreram 759 civis e mais de 3.400 pessoas continuam presas, incluindo a líder "de facto" do governo, Aung San Suu Kyi enquanto 1.276 birmaneses são alvo de ordens de detenção por oposição à Junta Militar comandada pelo general Min Aung Hlaing.
A atual situação provocada pela pandemia é uma incógnita devido à paralisação dos meios capazes de efetuar testes de covid-19, em parte devido à greve dos médicos e profissionais de saúde que não aceitam trabalhar sob a ditadura militar.
As campanhas de vacinação no país também se encontram suspensas.
O Exército justifica o golpe pela alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro passado, que segundo observadores internacionais, deu a vitória a Aung San Suu Kyi.