15 mai, 2021 - 17:14 • Lusa
A Casa Branca advertiu Israel de que garantir a segurança dos jornalistas é "primordial", após uma investida israelita ter destruído um edifício em Gaza onde funcionava a agência de notícias Associated Press, que ficou "chocada e horrorizada" com o ataque.
"Dissemos diretamente aos israelitas que garantir a segurança dos jornalistas e dos meios de comunicação independentes é uma responsabilidade de importância crítica", disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki.
As forças armadas israelitas destruíram este sábado um edifício que albergava os escritórios da agência de notícias Associated Press (AP) e outras organizações jornalísticas em Gaza, num ataque à capacidade de os meios de comunicação reportarem o que se passa no território.
O ataque, cujas razões continuam por explicar, aconteceu uma hora depois de os militares terem avisado o proprietário que iam atacar o edifício, ordenando a sua evacuação.
Através de uma declaração, a AP manifestou-se "chocada e horrorizada" com o ataque israelita, que destruiu a torre que albergava os seus escritórios e os da Al Jazeera, em Gaza, que classificou de um "desenvolvimento incrivelmente inquietante".
"Estamos chocados e horrorizados com o facto de os militares israelitas terem atacado e destruído o edifício que alberga o escritório da AP e outros meios de comunicação em Gaza", disse o presidente da agência norte-americana de notícias, Gary Pruitt.
E acrescentou: "Há muito que conhecem a localização do nosso escritório e sabiam que os jornalistas estavam lá. Fomos avisados de que o edifício seria atingido".
"Este é um desenvolvimento incrivelmente perturbador. Evitámos por pouco a terrível perda de vidas. Cerca de 10 jornalistas e 'freelancers' da AP estavam no edifício e, felizmente, conseguimos retirá-los a tempo", disse.
Pruitt referiu que a AP solicitou informações ao governo israelita e que está em contacto com o Departamento de Estado norte-americano para tentar saber mais.
"O mundo estará menos informado sobre o que está a acontecer em Gaza por causa do que aconteceu hoje", concluiu.
Por seu lado, o chefe do gabinete da Al Jazeera na Palestina e em Israel classificou este ataque como um "crime" e uma tentativa de o exército israelita "silenciar os media".
Falando em direto no canal de notícias em língua árabe, o chefe do gabinete da Al Jazeera para a Palestina e Israel, Walid al-Omari, disse que este "crime" era mais um de uma "série de crimes perpetrados pelo exército israelita", em Gaza.
Israel não quer "apenas espalhar a destruição e a morte em Gaza, mas também silenciar os meios de comunicação social que veem, documentam e dizem a verdade sobre o que está a acontecer", adiantou, advertindo que tal "é obviamente impossível".
O proprietário da Torre Jala, Jawad Mehdi, disse que um oficial dos serviços secretos israelitas o avisou, antes do ataque, que ele tinha uma hora para evacuar o edifício. Mehdi pediu mais 10 minutos para os jornalistas levarem o seu equipamento, o que foi recusado.
A Al Jazeera confirmou na rede social Twitter que os seus escritórios estavam no edifício e transmitiu imagens ao vivo do desmoronamento da torre, envolta numa nuvem de poeira.
O exército israelita alegou que equipamento militar do Hamas se encontrava no edifício, onde os profissionais dos meios de comunicação estavam a ser utilizados como "escudos humanos". Disse ainda que avisou previamente "os civis" no seu interior.
Desde segunda-feira que o movimento islamita dominante em Gaza - o Hamas - e Israel têm vindo a trocar disparos de e para o enclave palestiniano de dois milhões de pessoas.
Em Gaza, pelo menos 139 pessoas foram mortas, incluindo 39 crianças e 22 mulheres. Em Israel, oito pessoas foram mortas, incluindo um homem que foi atingido por um foguete que acertou Ramat Gan, um subúrbio de Tel Aviv.
Este aumento da violência tem levado ao medo de uma nova "intifada" palestiniana, numa altura em que as conversações de paz não existem há vários anos.
Os palestinianos assinalam hoje o Dia de Nakba (Catástrofe), quando cerca de 700.000 pessoas foram expulsas ou fugiram das suas casas nos territórios onde hoje se situa Israel, durante a guerra de 1948, o que faz aumentar os receios de mais agitação.