27 mai, 2021 - 12:38 • Sofia Freitas Moreira com agências
O Presidente francês Emmanuel Macron, numa visita ao Ruanda, disse que França reconhece a sua "responsabilidade" no genocídio ruandês de 1994, pedindo perdão pelo papel do país, mas sem oferecer um pedido oficial de desculpas.
Segundo o canal de notícias Al Jazeera, os comentários do chefe de Estado francês surgiram durante um discurso solene no Kigali Genocide Memorial, onde estão enterradas 250 mil vítimas dos massacres.
Cerca de 800 mil tutsis étnicos e hutus moderados foram mortos pelas milícias hutus em 100 dias de derramamento de sangue, que começaram em abril de 1994. O genocídio terminou em julho de 1994, quando a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), liderada pelo atual Presidente Kagame, invadiu o Uganda e tomou o controlo do país.
Macron disse que França não deu ouvidos aos avisos sobre o iminente massacre no Ruanda, mantendo-se a par de um "regime genocida".
"Estando aqui hoje, com humildade e respeito, ao vosso lado, vim reconhecer as nossas responsabilidades", disse, acrescentando, contudo, que França "não foi cúmplice" do genocídio.
Macron disse que o seu país tinha o dever de admitir o "sofrimento que infligia ao povo ruandês, ao valorizar durante demasiado tempo o silêncio acima da análise da verdade".
Acrescentou que só aqueles que sobreviveram aos horrores "talvez possam perdoar; dar-nos o dom do perdão".
Embora os comentários de Macron tenham ido mais longe do que os dos seus antecessores, muitos no Ruanda esperavam um pedido de desculpas completo pelo facto de França não ter ajudado a impedir o genocídio.
A visita de Macron segue-se à divulgação em março de um relatório de um painel de inquérito francês que dizia que uma atitude colonial tinha cegado os funcionários franceses e que o governo tinha uma responsabilidade "séria e esmagadora" por não prever o massacre. No entanto, o relatório absolveu a França de cumplicidade direta nos massacres.
O Presidente Kagame, que anteriormente tinha dito que a França participou no genocídio, disse na semana passada que o relatório "significava muito" para as pessoas do seu país.
Os ruandeses podiam "talvez não esquecer, mas perdoar" França pelo seu papel, disse Kagame, um tutsi e o principal poder na política ruandesa desde que o seu exército rebelde pôs fim às mortes por esquadrões da morte leais ao governo liderado pelos hutus.