28 mai, 2021 - 19:37 • Lusa
O Presidente da Bielorrússia acusou esta sexta-feira o Ocidente de tentar "desestabilizar" a situação no seu país durante uma reunião com o seu homólogo russo, que se congratulou com os "resultados concretos" da aproximação entre Moscovo e Minsk.
No início de uma reunião o Presidente russo Vladimir Putin em Sochi (sul da Rússia, nas margens do mar Negro), Alexander Lukashenko disse existir "uma tentativa de desestabilizar a situação até aos níveis de agosto do ano passado", numa referência aos protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto, que a oposição interna e os países ocidentais consideram fraudulentas.
"É muito óbvio o que pretendem os nossos amigos ocidentais...", disse Lukashenko visivelmente nervoso, antes de apresentar ao homólogo russo "diversos documentos" sobre o incidente de domingo passado e que implicou a detenção do jornalista da oposição Roman Protasevich e da sua companheira Sofia Sapega, indicou a agência noticiosa Efe.
"Para que entenda o que se passou. Para que compreenda que tipo de pessoas são", disse.
O líder de Minsk, no poder desde 1994 e crescentemente isolado na cena internacional, também criticou a União Europeia por punir as linhas aéreas estatais Belevia com o encerramento do seu espaço aéreo, ao considerar que a empresa é estranha ao incidente do voo da Ryanair que efetuava o voo Atenas-Vilnius.
“Porque razão castigam a frota da Belavia? Não tem nada que ver com isto. Levaram com tudo. Aí, mostram a sua verdadeira face", sublinhou.
Por sua vez, Putin recordou o incidente ocorrido em 2013 quando a Áustria, a pedido de União Europeia, forçou à aterragem do avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales, pela suspeita de que seguia a bordo o ex-analista da CIA Edward Snowden, alvo de um mandado de captura emitido pelos Estados Unidos.
"Forçaram à aterragem do Presidente da Bolívia. Tiraram o Presidente do avião, e nada: silêncio", indicou.
A Rússia tem justificado a atuação de Minsk, criticado as sanções decretadas pela União Europeia e considerado que o caso Protasevich, após o desvio do aparelho devido a uma alegada ameaça de bomba, é um assunto interno do país vizinho.
Lukashenko, muito criticado desde agosto de 2020 pelas acusações de fraude nas presidenciais que lhe garantiram um sexto mandato consecutivo, pronunciou na quarta-feira, perante as duas Câmaras do parlamento, um inflamado discurso no qual garantiu uma resposta às sanções europeias e assegurou ter atuado para proteger a segurança dos bielorrussos.
Em resposta, e durante a receção na sua residência de verão, Putin congratulou-se com a presença do seu homólogo e recordou que se está "em vias de construir uma União" reforçada entre a Rússia e a Bielorrússia, numa reafirmação do apoio ao país vizinho e aliado, também ex-república soviética.
"Avançamos firme nessa direção (...) e este trabalho já se traduz em resultados concretos para os nossos cidadãos", acrescentou Putin.
Lukashenko tem considerado que a Europa pretende "estrangular" o seu país, onde numerosos altos responsáveis já foram visados por sanções devido à repressão dos críticos do regime e do movimento de contestação sem precedentes em 2020.
Esta sexta-feira, a Presidente da Estónia, Kersti Kaljulaid, exortou o Ocidente a ir mais longe e a interromperem "o fluxo de dinheiro" enviado para Alexander Lukashenko.
Por sua vez, Bruxelas apresentou um projeto de apoio à Bielorrússia que prevê 3 mil milhões de dólares (2,4 mil milhões de euros) de ajuda ao país, em caso de transição democrática e quando Lukashenko abandonar o poder.