19 jun, 2021 - 18:54 • Lusa
Mais de mil mulheres de todo o país manifestaram-se este sábado na capital da Turquia, Istambul, contra uma decisão do presidente Recep Erdogan de revogar um tratado que as protegia contra a violência doméstica.
O decreto, de 20 de março, retira a Turquia de um tratado do Conselho da Europa, a Convenção de Istambul de 2011, que obriga os governos a aprovar legislação que castigue a violência doméstica, incluindo violação conjugal e mutilação genital feminina.
A decisão de Erdogan que provocou uma onde de choque no país e no mundo.
“A convenção de Istambul é nossa”, lia-se em faixas transportadas por centenas de mulheres vindas dos quatro cantos do país, incluindo das províncias de Bursa (noroeste) e Mardin (sudeste), para este protesto realizado no distrito de Maltepe, no lado asiático de Istambul.
“A nossa luta e a nossa organização alimentam a nossa esperança”, disse à agência France-Presse uma representante do Conselho das Mulheres, Melek Ondas, garantindo que estavam presentes manifestantes oriundos de 70 províncias turcas.
“Acreditamos na força das nossas organizações. Invertamos ou não essa decisão, continuaremos a nossa luta por todos os meios possíveis”, acrescentou.
Uma nova manifestação está já prevista para 1 de julho, dia da entrada em vigor da retirada do tratado.
Numa altura em que os femicídios não param de aumentar desde há uma década, na Turquia, a retirada suscitou críticas ferozes da parte de organizações de direitos das mulheres e da União Europeia, dos Estados Unidos e do Alto Comissariado para os Direito Humanos das Nações Unidas.
A decisão do chefe de Estado turco tem originado protestos por todo o país, de mulheres que se sentem ameaçadas pelo abandono do tratado num país onde a mentalidade patriarcal ainda é dominante.
Mais de 300 mulheres foram mortas no ano passado, na Turquia, segundo a plataforma “Vamos acabar com os femicídios”.
Cerca de 38% das mulheres na Turquia disseram já ter sido vítimas de violência doméstica pelo menos uma vez, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, enquanto esse valor ronda os 25% na Europa.