04 jul, 2021 - 14:27 • Lusa
Pelo menos dez pessoas morreram em confrontos entre o exército e opositores à junta militar que governa Myanmar (antiga Birmânia), registados na zona centro do país.
Habitantes da região relataram à agência francesa AFP que, desde o golpe de Estado de 1 de fevereiro, as pessoas estão, cada vez mais, a pegar em armas para combater o regime.
O golpe militar derrubou a conselheira de Estado Aung San Suu Kyi, líder do partido Liga Nacional pela Democracia, e empurrou o país para confrontos que já causaram a morte a 890 pessoas, segundo uma organização não-governamental local.
Segundo a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos – Birmânia (AAPPB), há, pelo menos, 58 crianças entre os mortos.
A organização relata ainda um número incontável de feridos e casos de tortura.
Além disso, até quarta-feira, contabilizou, desde a revolta contra o golpe, a detenção de 6.421 pessoas pelas forças de segurança, das quais 5.554 ainda se encontravam na prisão, e 1.988 mandados de detenção para suspeitos.
De acordo com a Amnistia Internacional, as restrições ao acesso à internet e à liberdade de imprensa são severas.
Os confrontos estão também a forçar a deslocação de centenas de milhares de mulheres, homens e crianças, denuncia a Amnistia, estimando que, em 2021, “aproximadamente 200 mil civis deslocados” se tenham somado “aos mais de 300 mil deslocados já existentes que dependem da ajuda humanitária”.
Após o golpe militar, os civis organizaram-se, em certas zonas do país, em “grupos de defesa” para combater a junta militar, recorrendo a caçadeiras e armas artesanais.
Apesar da repressão, manifestantes continuam a descer diariamente às ruas para desafiar o regime militar.
Na terça-feira, Aung San Suu Kyi – em prisão domiciliária desde o golpe – compareceu a um tribunal militar liderado pela junta.
A vencedora do Prémio Nobel da Paz em 1991, julgada por sedição, pode ser condenada a mais de dez anos de prisão se for considerada culpada.
Os militares justificaram o golpe por uma alegada fraude eleitoral nas eleições de novembro, ganhas, tal como em 2015, pelo partido liderado por Aung San Suu Kyi, com observadores internacionais a negarem a existência de qualquer fraude.