09 jul, 2021 - 14:00 • Sandra Afonso
Já tem mais dinheiro do que Warren Buffett ou Bill Gates, reinventou um sector inteiro e domina um mercado que continua a crescer – as vendas online. O que se segue? Levar privados ao espaço de forma segura e a preços mais acessíveis, com a Blue Origin. No brasão da empresa Bezos colocou um lema em latim que resume o que tem sido o percurso de vida, Gradatim Ferociter: passo a passo, ferozmente (in “Vida e textos de Jeff Bezos”, ed Planeta Estratégia).
No dia 5 de julho passou o comando da Amazon para Andy Jassy, o número dois que está na Amazon há 24 anos, quase tantos como Bezos, e era atualmente responsável pelo serviço de cloud da Amazon, o Amazon Web Services. Esta transição ocorreu exatamente 27 anos depois de Bezos lançar a Amazon, a 5 de julho de 1994.
É conhecido por Jeff, mas nasceu Jeffrey, em Albuquerque, no Novo México, sudoeste dos Estados Unidos.
Não tem memória do pai biológico, que abandonou a mãe tinha ele um ano. Em 2012 foi descoberto por um jornalista e só então ficou a saber que tinha um filho milionário. Quis conhecê-lo e recusava ajuda financeira, mas morreu três anos depois, sem que se voltassem a encontrar.
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Jeff Bezos só conheceu um pai, o imigrante cubano Miguel Bezos, que o adotou depois de casar com a mãe.
O multimilionário chegou a trabalhar no McDonald’s, quando era adolescente, mas estava destinado a altos voos. De Princeton, onde se formou em engenharia elétrica e ciências da computação, passou para Wall Street. Pelo caminho ainda esteve numa Startup, mas aos 30 já era o quarto vice-presidente sénior do "hedge fund" D. E. Shaw & Co.
Para surpresa de muitos, o dono da Amazon acabou por trocar Wall Street por uma livraria online. Porquê? Numa carta aos acionistas o próprio explica ter descoberto que “a utilização da web estava a crescer 2300% ao ano”.
Sempre quis ser gigante, mas era preciso começar pequeno. Jeff e a mulher decidiram instalar-se em Seattle e começar por vender livros pela internet, o mercado ideal para competir com as lojas físicas. Os pais investiram 25% do capital inicial e outros investidores entram com o restante.
A empresa chegou a chamar-se “Cadabra”, que um advogado confundiu com “cadáver”. A segunda opção foi “Relentless” (Implacável), que também não agradou aos amigos. Acabou por ficar Amazon, nome inglês para Rio Amazonas, que Bezos associava a “exótico e diferente”. Além disso, começava pela letra A, o que garantia os primeiros lugares em ordenações alfabéticas.
Como outros gigantes, também a Amazon começou numa garagem, onde rapidamente estavam a despachar encomendas para todo o território dos Estados Unidos. Quatro anos depois começa a vender CDs e filmes e dá o salto para o Reino Unido e a Alemanha. Avança ainda com a expansão através de parcerias com outros sites, são mais de 350 mil, cujas vendas passam todas pela Amazon.
Em 2002 Bezos lança a Amazon Web Services (AWS), inicialmente uma empresa de serviço de dados e estatísticas para sites. A empresa tornou-se incontornável no armazenamento virtual, com clientes como a NASA e a Netflix.
Bezos volta a revolucionar o mercado literário em 2007, com o lançamento do Kindle, o leitor de livros digital da marca. Mais uma vez, supera a concorrência ao antecipar as necessidades do mercado e garantir a melhor oferta.
Nos anos seguintes, foi a vez do serviço de vídeos, Amazon Prime Video, as aplicações para Android e a Alexa, assistente virtual disponível nos dispositivos Echo.
A estratégia de Bezos inclui ainda a aquisição de dezenas de empresas, que a transformou numa das gigantes tecnológicas da actualidade, a par da Google, Apple, Microsoft e Facebook.
Na Amazon, Bezos tem a fama (e muitos defendem que também terá o proveito) de ser agressivo nos negócios. A empresa tem sido notícia por promover más condições de trabalho e o próprio CEO já foi eleito “o pior chefe do mundo” pelos sindicatos. Ele mantém desde o início a mesma filosofia: em primeiro lugar está o cliente. Nas palavras do próprio, “há diversos princípios na base da Amazon, mas o que de longe nos trouxe mais sucesso foi o foco obsessivo-compulsivo no cliente e não na concorrência”.
Os planos de Jeff Bezos passam ainda pela conquista do espaço. Actualmente está numa corrida pública com Branson pelas viagens tripuladas, mas o início desta aventura foi bastante discreto. Fundou a Blue Origin em 2000, mas só anunciou os planos três anos depois.
Mas não se iludam, o empresário é o primeiro a defender a Terra. Em 2019, na apresentação do módulo lunar da companhia, explicou: “queremos partir para o espaço para proteger este planeta. Daí a empresa chamar-se Blue Origin – pelo planeta azul, que é de onde vimos” (em “Inventar & Criar – Jeff Bezos”, ed Planeta Estratégia).
Bezos investe mais de mil milhões de dólares por ano para explorar o universo e já vender parte das ações da Amazon para financiar a Blue Origin.
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Em 2013 anunciou uma nova aposta, desta vez ia investir na impensa. Comprou o The Washington Post, quando muitos media anunciavam cortes para sobreviver à concorrência do digital. Com ele o jornal expandiu-se, ganhou leitores online e presença nacional. Em três anos estava a dar lucro e a contratar.
Em 2018 fundou o Bezos Day One Fund, com o objectivo de financiar instituições não lucrativas que apoiam sem-abrigo e em criar uma rede de escolas de topo, no ensino pré-escolar, para comunidades com poucos recursos.
A pandemia foi uma oportunidade e um desafio para a Amazon. Segundo Bezos, “gerou uma subida imediata na procura por encomendas de comércio eletrónico, e a Amazon enfrentou o desafio assustador de manter em segurança centenas de milhares de funcionários dos armazéns”. Durante esta crise, foram contratados milhares de funcionários, incluindo muitos dos que ficaram desempregados devido ao encerramento da economia.
Pai de quatro filhos e com um casamento de 25 anos, Bezos assinou em 2019 o divórcio mais caro da história, até ser suplantado por Bill Gates.