26 jul, 2021 - 12:06 • Marta Grosso com Al Jazeera
O Presidente da Tunísia, Kais Saied, suspendeu o Parlamento e demitiu o primeiro-ministro, Hichem Mechichi, numa ação vista pelos seus rivais como um ataque à democracia, mas que outros saudaram com celebrações nas ruas.
No domingo, o chefe de Estado anunciou que assumirá o executivo com a ajuda de um novo primeiro-ministro – isto, depois da ocorrência de protestos violentos em várias cidades tunisianas contra a forma como o Governo está a lidar com a pandemia de Covid-19 e a economia.
“Muitas pessoas foram enganadas pela hipocrisia, a traição e o roubo dos direitos do povo”, afirmou num comunicado divulgado pela comunicação social estatal, após uma reunião de emergência no palácio presidencial depois de milhares de tunisinos terem marchado em várias cidades.
“Aviso quem pensa em recorrer a armas e quem disparar uma bala: as Forças Armadas responderão”, afirmou ainda.
Kais Saied levantou ainda a imunidade dos membros do Parlamento.
O Presidente da Tunísia insiste que as ações que tomou são constitucionais, mas há quem as considere o maior desafio para a Constituição de 2014, que divide os poderes entre o Presidente, o primeiro-ministro e o Parlamento.
Nas ruas, a população protestava contra o partido Ennahdha, o maior no Parlamento. O líder do partido e presidente do Parlamento tunisino, Rached Ghannouchi, acusou Saied de lançar “um golpe contra a revolução e a Constituição”.
“Consideramos que as instituições ainda estão de pé e os apoiantes do Ennahdha e do povo tunisino defenderão a revolução”, afirmou à agência Reuters.
“O que Kais Saied está a fazer é um golpe de Estado contra a revolução e contra a Constituição, e os membros do Ennahdha e o povo tunisino defenderão a revolução”, escreveu o Ennahdha num comunicado no Facebook.
Há mais de um ano que Kais Saied e Hichem Mechichi se envolvem em disputas políticas entre si, enquanto o país enfrenta uma crise económica e uma resposta instável à pandemia.
Saied e o Parlamento foram eleitos em eleições separadas, em 2019, enquanto Mechichi assumiu o cargo no ano passado, substituindo um outro governo de curta duração.
Segundo relata a jornalista Rabeb Aloui à Al Jazeera, a partir de Tunes, a medida de Saied não surpreendeu, uma vez que já tinha ameaçado fazê-lo.
“Desde setembro passado que vivemos sob uma crise política”, diz Aloui, segundo o qual muitos jovens tunisinos – sobretudo os que protestaram no domingo – expressaram alegria com o anúncio.
“Estamos mesmo a viver uma crise económica com a crise de saúde”, garante.
A Tunísia – país com cerca de 12 milhões de pessoas – já registou mais de 18.000 mortes associadas à Covid-19.