31 jul, 2021 - 20:02 • Lusa
O Museu da Língua Portuguesa, na cidade brasileira de São Paulo, reabriu este sábado numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo, várias autoridades e a interpretação dos hinos do Brasil e de Portugal. O chefe de Estado brasileiro, Jair Bolsonaro, não esteve presente e participou num encontro com apoiantes.
"Dança quem está na roda", disse Marcelo Rebelo de Sousa, quando questionado pelos jornalistas sobre a ausência do homólogo brasileiro.
"Só respondo por Portugal. Gosto muito do que se diz no Minho que é: dança quem está na roda. Eu estou nesta roda, estou muito feliz por estar nesta roda e nesta dança. Esta é uma dança que pensa no futuro da língua portuguesa e de 260 milhões de pessoas. Isso para mim é o mais importante", disse.
O Presidente da República português falava durante a conferência de imprensa conjunta com várias personalidades, incluindo o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, e o Governador do Estado de São Paulo, João Dória, que não poupou nas críticas ao Presidente brasileiro.
Jair Bolsonaro foi a ausência mais notada na cerimónia para a qual, segundo o governador, foram convidados todos os ex-Presidentes do Brasil, mas compareceram apenas Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso.
Segundo a imprensa local, Bolsonaro, com quem Marcelo Rebelo de Sousa se deverá reunir na segunda-feira, em Brasília, está no Estado de São Paulo, numa concentração de motos, na cidade de Presidente Prudente.
Num evento mais restrito, sem público, em que a maioria dos jornalistas não se pode aproximar das autoridades devido à pandemia de covid-19, a cantora brasileira Fafá de Belém interpretou "a cappella" os hinos do Brasil e de Portugal, para celebrar a língua portuguesa falada oficialmente nestas duas nações e também em Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guine Equatorial e Timor-Leste.
No seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que seis anos volvidos após o incêndio que destruiu parte do prédio da Estação da Luz todos estavam ali "para não esquecer as cinzas do passado, mas a partir delas construir hoje o futuro".
O presidente da câmara municipal de São Paulo afirmou ser uma alegria enorme a reabertura do espaço cultural.
"A cidade de São Paulo é a cidade que tem o maior número de pessoas no mundo que falam a língua portuguesa (...) é uma cidade que apoia a todos. Estamos muitos felizes, um grande dia para vocês e para a cultura", destacou Ricardo Nunes.
O governador de São Paulo, João Dória, destacou o investimento de 85 milhões de reais (13,7 milhões de euros à cotação atual) para a reconstrução do espaço e que foi doado por um grupo de empresas parceiras, incluindo a EDP Brasil.
"O museu está localizado na Estação da Luz e que tem a luz da nossa língua, a luz de um sonho, a luz que nos promove, a luz que nos protege", afirmou o governador de São Paulo.
Dória também fez uma crítica velada ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, seu possível rival nas presidenciais de 2022 que foi convidado a participar do evento, mas não compareceu.
"Há duas semanas o vocabulário ortográfico da língua portuguesa incorporou mil novas entradas, temos agora 382 mil vocábulos. Entre as novas palavras estão alguns erros e problemas do presente, como a palavra metacronismo ou pós-verdade", frisou Doria.
"Para elas, a língua portuguesa tem os seus antídotos, suas vacinas, palavras que estão aí há tempos [como] ciência, vidas, fatos, transparência, trabalho e eu citaria, com muita ênfase, democracia", acrescentou.
O Presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca, expressou a sua felicidade por estar presente na reinauguração de um museu "da língua portuguesa que une a todos, uma língua que desde as suas origens em terras portuguesas cresceu, desceu para o sul, chegou a África, a América Latina e a Ásia".
Instalado na histórica Estação da Luz, o Museu da Língua Portuguesa foi reconstruído após um incêndio de dezembro de 2015.
Um dos primeiros museus totalmente dedicados a um idioma no mundo, o espaço promove um mergulho na história e na diversidade do idioma através de experiências interativas, conteúdo audiovisual e ambientes imersivos.
A reconstrução do Museu teve como patrocinador principal a EDP Brasil, seguida da Globo, do Itaú Unibanco e da companhia Sabesp, apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e do Governo Federal brasileiro, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
A responsável pela gestão do Museu de Língua Portuguesa é a organização social IDBrasil Cultura, Educação e Esporte.