10 ago, 2021 - 08:23 • Miguel Coelho
As Nações Unidas lançaram o alerta vermelho com um novo relatório sobre as alterações climáticas, de cinco mil páginas, segundo o qual a situação é pior do que se temia e é preciso fazer mais e mais depressa para tentar atenuar a atual trajetória.
O que concluíram, em resumo, os peritos?
Antes do mais, uma das conclusões é que são inequívocas as provas de que é a atividade humana a responsável pelo aumento médio das temperaturas a que o planeta tem vindo a assistir.
Cada uma das últimas quatro décadas foi mais quente do que a anterior, com a responsabilidade a ser atribuída, sobretudo, às emissões de dióxido de carbono e outros gases com efeito estufa como o metano, produzidos pela queima de petróleo e outros combustíveis fósseis, mas também pela agricultura.
Mas há anos que somos avisados sobre o aquecimento global…
Sim, a questão é que, apesar de tudo o que se tem dito sobre o assunto, a velocidade do aquecimento global é cada vez maior. Basta dizer que o objetivo que saiu da célebre Cimeira do Clima que aconteceu em Paris em 2015 era tentar evitar que a temperatura da Terra subisse mais de um grau e meio até 2100.
Ora, este relatório indica agora que, no cenário mais otimista, isso vai acontecer já em 2040 e há mesmo o risco de acontecer já em 2030.
Até 2100, as previsões mais prováveis apontam agora para um aumento médio da temperatura de 2,7 graus. E é uma tendência considerada irreversível – ou seja, pode ser atenuada, mas já não vamos a tempo de a reverter.
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E que consequências podemos esperar?
À maior parte delas já começámos a assistir, com as alterações no clima e fenómenos cada vez mais extremos, com tempestades mais frequentes, mais violentas, mesmo em locais pouco habituais.
Além disso, fenómenos de seca e incêndios florestais – e Portugal é, neste capítulo, um dos países mais expostos, tal como à subida do nível do mar, causada pelo degelo dos glaciares. Prevê-se esse aumento do nível do mar possa chegar aos dois metros até 2100. Parece pouco, mas não é: há mesmo territórios que podem desaparecer, nomeadamente algumas ilhas do Pacífico.
E esta não é uma previsão de longo prazo, são efeitos que já começámos a sentir e que progressivamente vão ser sentidos nos próximos anos e nas próximas décadas.
Como agir e em quê?
Os governos têm uma palavra especialmente decisiva, porque são quem pode regular ou mesmo proibir a utilização dos combustíveis, apostar em energias mais limpas, financiar também países mais pobres para transformarem as suas economias – porque se eles não mudarem, a poluição continua, por essa via, a ir parar à atmosfera.
Mas, além dos governos, cada um de nós tem um papel a desempenhar. Podemos deixar o transporte individual sempre que possível, optar pelo transporte público ou por outros meios de locomoção ainda mais amigos do ambiente, como a bicicleta e até andar a pé (o que se tem tornado mais frequente nas nossas cidades).
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E mais. Produzir a nossa energia com recurso a painéis solares, reduzir o consumo de carne (porque sabemos que a produção pecuária é uma das principais fontes da emissão de metano para a atmosfera), a reciclagem também é importante, porque ao reciclarmos estamos a impedir que esse circuito se tenha de renovar com nova produção de materiais e emissão de combustíveis uma vez mais poluentes, gastos de energia adicionais… Enfim, no dia-a-dia, há uma quantidade de contributos que podemos dar para travar esta tendência já tão acentuada e acelerada.
Como comer fruta da época!
Sim, comer fruta da época é outro bom exemplo. Ao comermos fruta que é produzida no outro lado do mundo, temos de ter a consciência que ela precisa de ser transportada e esse transporte é muitas vezes feito por via marítima. Ora, os grandes cargueiros que atravessam o oceano são movidos por combustíveis da pior espécie, porque são os mais baratos que fazem mover navios de tonelagem imensa; são os principais meios de poluição.
Da próxima vez que formos ao supermercado comprar fruta, é bom pensar nisso.
Não podemos é colocar-nos, como disse Soromenho-Marques à Renascença, na situação cómoda de espectadores de sofá. Devemos pensar que cada um de nós, no seu dia-a-dia, tem comportamentos em que pode agir decisivamente nesta travagem tão necessária e urgente.