16 ago, 2021 - 16:09 • Lusa
O ministro dos Negócios Estrangeiros considera inaceitável que o Afeganistão volte a ser um santuário de grupos terroristas, mas considera que agora é preciso usar a diplomacia para exigir aos talibãs que cumpram regras nacionais e internacionais.
"O Afeganistão não pode tornar-se, de novo, um santuário de movimentos terroristas. Isso deve ser claro para todos, claro para a comunidade internacional, para a NATO, para a União Europeia e esperamos que seja também claro que as novas autoridades afegãs quando elas estiverem constituídas", afirmou Augusto Santos Silva em declarações à agência Lusa.
O ministro lembrou que os talibãs garantiram que o seu regresso ao poder não significa "risco de vida e segurança para as pessoas ou para a situação das mulheres e, em particular, do seu direito à educação" e que, de acordo com o movimento radical islâmico, não haverá um retorno da violência ao Afeganistão.
"Vamos ver se essas declarações são credíveis", disse Santos Silva, acrescentando que é preciso ver "em que condições se faz a transição de poder".
Para o ministro dos Negócios Estrangeiros português, agora "é hora de pôr em prática todos os instrumentos da política externa da União Europeia e da diplomacia" para que "a transição de poder no Afeganistão seja o menos problemática possível" e para que "as novas autoridades do Afeganistão cumpram a sua própria palavra".
Questionado sobre o nível de confiança que tem nessas declarações dos talibãs, Santos Silva reiterou que "agora é hora de pedir e exigir das novas autoridades afegãs que cumpram as suas responsabilidades nacionais e internacionais e de pôr toda a diplomacia ao serviço dessa causa".
Por outro lado, adiantou o ministro, será necessário também dedicar atenção aos afegãos que colaboraram com a comunidade internacional nos últimos 20 anos.
"É preciso cuidar, em particular, dos muitos milhares de afegãos que colaboraram connosco ao longo destes anos e que estão hoje inquietos, preocupados, aflitos. É hora de apoiá-los e protegê-los", afirmou.
Por isso, referiu, "Portugal foi dos primeiros países a assinar uma declaração" que já conta com 65 países subscritores, na qual se adverte os talibãs de que devem dar mostras de responsabilidade e permitir a saída dos cidadãos afegãos e estrangeiros que queiram fugir do país.
O ministro considerou ainda que o resultado da operação que levou a NATO e a União Europeia a permanecerem no Afeganistão durante cerca de duas décadas deve ser alvo de "um debate político".
Portugal não tem, “neste momento, nenhum motivo de(...)
"Uma operação de praticamente 20 anos no Afeganistão que, de facto, conseguiu resultados muito importantes - conseguiu acabar com o santuário da Al-Qaeda no Afeganistão, conseguiu melhorias muito importantes nos níveis de vida e nas condições de vida dos afegãos, conseguiu avanços muito importantes no respeito dos direitos das mulheres e perspetivas de futuro para as crianças e jovens -. mas não terá conseguido um dos seus resultados principais que foi capacitar as instituições do Afeganistão, incluindo as suas Forças Armadas e de segurança para defenderem o seu próprio país e civilização", descreveu.
Por isso, sublinhou Santos Silva, é preciso "fazer um debate político entre nós".
Esse debate, referiu, "certamente começará já amanhã [terça-feira]".
Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 da União Europeia vão reunir-se na terça-feira de forma extraordinária para discutir a situação no Afeganistão.
"Mas hoje, a esta hora - que é uma hora difícil para todos - é altura de reafirmar o nosso sistema de alianças", afirmou, lembrando que "as forças armadas portuguesas prestaram um contributo muito importante à causa da pacificação do Afeganistão", tendo sido, inclusive, "perdidas duas vidas".
"Agora temos de agradecer e recordar o esforço das nossas Forças Armadas e afirmar que nós somos membros da Aliança Atlântica. Com a Aliança Atlântica entrámos, com a Aliança Atlântica saímos", concluiu.