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Qual o futuro no Afeganistão? "Irá acontecer uma espécie de ditadura sancionada pelo Corão"

16 ago, 2021 - 07:45 • André Rodrigues , Sofia Freitas Moreira

Os talibãs tomaram o controlo de Cabul no domingo, depois de terem entrado na capital sem encontrar resistência, com quase todas as províncias debaixo do seu domínio.

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Numa perspetiva analítica quanto ao futuro social e político do Afeganistão, José Vegar, jornalista e investigador em questões relacionadas com o terrorismo jihadista, não antevê grandes mudanças.

Em declarações à Renascença, admite, contudo, que a política externa dos talibãs possa ser diferente daquela que vigorava na altura do 11 de setembro.

“Estou muito curioso em ver as próximas semanas e os próximos meses, porque os talibãs, quando os Estados Unidos empregaram força maciça, tiveram de recuar, e só surgem agora quando as forças militares ocidentais abandonam o território”, começa por analisar.

Para José Vegar, os talibãs terão entendido a lição de há 20 anos. “Uma coisa é dominar o território, outra é exportar a visão militar da expansão do Islão, através do terrorismo. Não creio que haja uma relação tão imediata e tão forte entre a chegada dos talibãs ao poder no Afeganistão e um aumento do terrorismo.”

Ruas semi-desertas e helicópteros no céu. As primeiras imagens da tomada de poder dos talibã em Cabul
Ruas semi-desertas e helicópteros no céu. As primeiras imagens da tomada de poder dos talibã em Cabul

A capacidade de os talibãs organizarem um Estado e de terem algo semelhante a uma sociedade a caminho da democracia não vai existir, prevê o investigador.

“As estruturas fundamentais da sociedade, como a justiça, a educação, o respeito pelos direitos humanos, o direito pelas mulheres, não vão existir. O que irá acontecer é uma espécie de ditadura sancionada pelo livro, pelo Corão, como no Irão, no qual se alicerça uma estrutura ditatorial”, conclui.

Em apenas dez dias, os talibãs tomaram o controlo da maior parte do Afeganistão e chegaram às portas da capital.

Um porta-voz do movimento extremista islâmico adiantou ter ordenado aos combatentes que não fizessem uso da violência. Apesar do comunicado, o medo instalou-se e centenas de pessoas foram vistas a abandonar os locais de trabalho mais cedo do que o habitual, deixando as ruas desertas, nalgumas regiões da cidade.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, abandonou o país, no domingo, quando os talibãs estavam às portas da capital, e declarou ter fugido do país para “evitar um banho de sangue”, reconhecendo que “os talibãs ganharam”.

Sem indicar para onde partiu, Ghani declarou-se convencido de que “inúmeros patriotas teriam sido mortos e Cabul teria sido destruída” se tivesse ficado no Afeganistão.

“Os talibãs ganharam e são agora responsáveis pela honra, a posse e a autopreservação do seu país”, acrescentou, numa mensagem publicada na rede social Facebook.

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