19 ago, 2021 - 10:46 • Carla Fino , Marta Grosso
Assinala-se nesta quinta-feira o Dia Mundial da Ajuda Humanitária. Não será propriamente um dia de celebração, mas sim de apelo, pois nunca fez tanto sentido valorizar o papel dos milhares de voluntários que todos os dias tentam aliviar o sofrimento de tantas pessoas em tantos lugares do mundo.
O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas é uma das muitas organizações que presta auxílio em várias regiões do mundo, tendo sido no ano passado galardoado com o Prémio Nobel da Paz.
À Renascença, Pedro Matos, coordenador de emergência do PAM, diz que, neste dia, mais importante do que a ajuda humanitária, é que as pessoas conheçam as crises mundiais e queiram ajudar o outro.
“Mais do que dar importância a nós, trabalhadores humanitários, acho que é muito importante darmos visibilidade às crises em si. Porque é uma tendência do mundo cada vez mais de se virar para dentro e dizer 'nós primeiro'. Em qualquer local do mundo, por muito avançados que estejamos, há sempre pessoas a dizer 'mas as nossas pessoas precisam mais'”, afirma.
“Se esta visão vingar, nunca vamos ter um mundo solidário uns com os outros”, defende.
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Pedro Matos considera existir “uma obrigação de redistribuição da riqueza”, em que os que têm mais ajudam os que têm menos.
“Enquanto houver pessoas que ganham 70 euros por mês e outras que ganham três mil euros por mês, noutros sítios do planeta, como salários mínimos, há de facto uma necessidade de os países mais ricos virem ajudar os países mais pobres. Não quer dizer que tenha de ser com ajuda alimentar ou humanitária, mas há uma obrigação de redistribuição da riqueza e ajudarmos os países que têm mais necessidades a convergirem para terem as suas necessidades básicas garantidas”, defende.
Nesta missão, cada cidadão também tem o seu papel, que não é de menosprezar.
“Como cidadão, acho que todos nós temos responsabilidade de pressionarmos os nossos governos e, em vez de entrarmos numa lógica de 'nós primeiro', reconhecermos que, apesar de o nosso país também ter necessidades, também temos uma responsabilidade com os países terceiros e pormos pressão no nosso Governo para fazer mais”, afirma.
O coordenador do PAM aproveita o que se está a passar no Afeganistão para dar um exemplo: “na crise dos afegãos, houve uma data de países que se chegaram à frente para oferecer vagas para milhares de refugiados e outros que oferecem apenas 20, 30. Acho que faz parte do nosso papel também exigirmos aos nossos governos que sejam mais solidários e que deem uma parte dos nossos impostos para ajudar os outros”.
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O “nós primeiro” é algo que deve ser excluído quer “na nossa vida pessoal como na nossa participação enquanto cidadãos junto do nosso Governo”, reforça.
Pedro Matos, que trabalhou no terreno em países como Iémen, Mali e Quénia, sabe que a ajuda humanitária vai fazer parte do mundo dos dias de hoje. Por isso, o Dia Mundial da Ajuda Humanitária vai sempre fazer sentido.
“Mais que não seja, porque nunca deixaremos de ter desastres naturais. Agora, com a teoria das alterações climáticas, essa situação vai sempre piorar”, afirma. E mesmo não havendo muita coisa “que possamos fazer em relação a tsunamis ou terramotos, podemos intervir sobre os conflitos armados” e “investir nas causas da insegurança alimentar, da proteção dos cidadãos e dos refugiados”.
O Dia Mundial da Ajuda Humanitária celebra-se todos os anos em 19 de agosto e foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com vista a homenagear aqueles que, ao serviço dos outros e na defesa de causas humanitárias, arriscam as suas vidas.