20 ago, 2021 - 12:44 • Ricardo Vieira
Os talibãs torturaram e assassinaram nove homens da etnia hazara no Afeganistão quando assumiram o controlo da província de Ghazni, no mês passado, revela uma investigação da Amnistia Internacional (AI).
O massacre terá tido lugar entre os dias 4 e 6 de julho na aldeia de Mundarakht, de acordo com o relato de testemunhas ouvidas por investigadores no terreno, que também analisaram provas fotográficas do massacre.
Seis homens da etnia hazara foram mortos a tiro pelos talibãs e três torturados até à morte. Uma das vítimas foi estrangulada com o próprio lenço e os músculos dos braços foram cortados, de acordo com a Amnistia Internacional.
Os confrontos entre forças governamentais e talibãs na província de Ghazni intensificaram-se no dia 3 de julho e os habitantes de Mundarakht contaram aos investigadores da AI que fugiram para as montanhas para escapar aos combates.
Grupos armados estão a ir casa-a-casa ameaçando as(...)
No dia seguinte, cinco homens e quatro mulheres voltaram à aldeia para buscar alimentos para as 30 famílias escondidas na montanha. Os talibãs estavam à espera e começaram os atos de tortura e os assassinatos.
“Provavelmente, estas mortes brutais representam uma pequena fração do total de mortes infligidas pelos talibãs até agora, já que o grupo cortou as telecomunicações móveis em muitas das áreas que recentemente capturaram, controlando as fotos e vídeos que são partilhados a partir”, alerta a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos.
Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, diz que a brutalidade destes assassinatos serve para recordar o registo histórico da brutalidade dos talibãs e é um “indicador horrível” para o que poderá ser a nova liderança do Afeganistão.
“Estes assassinatos seletivos são a prova de que as minorias étnicas e religiosas continuam a correr um risco especial sob o domínio dos talibãs no Afeganistão”, afirma Agnès Callamard.
A Amnistia Internacional apela às Nações Unidas a adoção de uma resolução de emergência a exigir que os talibãs respeitem a legislação internacional sobre direitos humanos e garantam a segurança de todos os afegãos, “independentemente da sua etnia ou religião”.
“O Conselho de Direitos Humanos da ONU deve lançar um mecanismo de investigação robusto para documentar, recolher e preservar provas de crimes em curso e abusos dos direitos humanos em todo o Afeganistão. Isso será fundamental para garantir uma tomada de decisão informada pela comunidade internacional, e combater a impunidade que continua a alimentar crimes graves no país”, defende Agnès Callamard.
Num documento confidencial agora divulgado, as Nações Unidas alertam que os talibãs estão a ir porta-a-porta para encontrar quem colaborou com a NATO ou com o anterior governo afegão.
De acordo com o documento revelado pela BBC, os afegãos contactados têm sofrido ameaças pessoais e também aos seus familiares.
O aviso consta de um documento confidencial do Centro Norueguês de Análises Globais RHIPTO, que fornece informações à ONU