20 ago, 2021 - 08:55 • Sofia Freitas Moreira com agências
No Afeganistão cresce o clima de medo e incerteza. As Nações Unidas alertam, num documento confidencial, que os talibã estão a ir porta-a-porta para encontrar quem colaborou com a NATO ou com o anterior governo afegão.
De acordo com o documento revelado pela BBC, os afegãos contactados têm sofrido ameaças pessoais e também aos seus familiares.
O aviso consta de um documento confidencial do Centro Norueguês de Análises Globais RHIPTO, que fornece informações à ONU.
"Há um elevado número de indivíduos que estão a ser alvo dos talibã e a ameaça é cristalina", disse Christian Nellemann, que dirige o grupo responsável pelo relatório.
"Está escrito que, a menos que se entreguem, os talibãs irão prender, interrogar e punir os membros da família em nome desses indivíduos".
Nellemann avisa que qualquer pessoa desta lista negra está em grave perigo, podendo dar origem em execuções.
A rede social introduziu uma função que permite ao(...)
Os talibã têm tentado tranquilizar os afegãos desde que tomaram o poder no país, prometendo que não haveria “vinganças”, mas os receios de um fosso entre o que o grupo diz e o que faz têm crescido.
Um funcionário da NATO disse, esta sexta-feira, que mais de 18 mil pessoas já foram retiradas do Afeganistão, nos últimos cinco dias, a partir do aeroporto de Cabul.
Fora do aeroporto, a situação continua caótica. Os talibã têm bloqueado os afegãos que tentam fugir, com um vídeo a mostrar uma criança a ser entregue a um soldado norte-americano.
A notícia das ameaças porta-a-porta surge no dia em que os ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança Atlântica se reúnem para debater o Afeganistão.
De acordo com outro relatório do grupo dos direitos humanos da Amnistia Internacional, recentemente, os talibã têm “massacrado” e brutalmente torturado vários membros da minoria afegã Hazara.
No relatório publicado na quinta-feira, a Amnistia disse que nove homens Hazara foram mortos entre 4 e 6 de julho, no distrito de Malistan, na província de Ghazni oriental.
O grupo de direitos humanos entrevistou testemunhas e analisou provas fotográficas. Os aldeões disseram ter escapado para as montanhas quando os combates se intensificaram entre as forças governamentais e os combatentes talibãs.
No total, seis homens foram alegadamente baleados, alguns na cabeça, e três foram torturados até à morte.
A comunidade Hazara é o terceiro maior grupo étnico do Afeganistão, representando 9% da população do país.
Praticam principalmente o Islão xiita e têm enfrentado discriminação e perseguição a longo prazo, predominantemente no Afeganistão sunita e no Paquistão.