21 ago, 2021 - 20:49
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse hoje que é "impossível" fazer sair todos os estrangeiros ocidentais que estão no Afeganistão até final do mês, criticando as medidas de segurança impostas pelos norte-americanos no acesso ao aeroporto.
"É matematicamente impossível", disse Borrell em entrevista por telefone à agência France-Presse, na qual vincou que "o problema" está no "acesso ao aeroporto [devido às] medidas de controlo e segurança dos americanos", que "são muito fortes".
Borrell acrescentou: "Nós queixámo-nos, pedimos-lhes que mostrassem mais flexibilidade, porque não conseguimos acesso para as nossas pessoas".
A delegação da União Europeia em Cabul tem cerca de 400 funcionários afegãos e respetivas famílias, a quem foi prometida ajuda para saírem do país, mas até agora apenas 150 pessoas chegaram a Madrid, o local escolhido para acolher estes funcionários.
"Estes são o pessoal ativo, mas o número de afegãos que trabalhou connosco nos últimos 20 anos é muito superior", acrescentou o responsável, explicando que um dos aeroportos está inutilizado.
"Cabul tem dois aeroportos, o aeroporto civil está nas mãos dos talibãs e não tem voos de partida, os americanos controlam o aeroporto militar, e os aviões embarcam as pessoas que estão no asfalto, no avião que chegou hoje a Madrid, um terço dos passageiros era americano", explicou.
A presidente da Comissão Europeia salientou que "o(...)
A Europa, apontou, "não tem capacidade militar para ocupar e assegurar o controlo do aeroporto militar, os talibãs vão assumir o controlo" quando os seis mil militares norte-americanos e britânicos deixarem, em 31 de agosto, o aeroporto, avançou, salientando que é preciso falar com os talibãs para conseguir ir buscar as pessoas.
"Se queres tirar o teu "pessoal", tens de falar com os talibãs, todos procuram acordo com os talibãs, nós temos contactos com os talibãs, mas não com a sua liderança, e isso não é o mesmo que reconhecer o regime", concluiu.
Os talibãs conquistaram a capital do Afeganistão, Cabul, no domingo, culminando uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO do país.
As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos da América contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
A tomada da capital põe fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e dos seus aliados na NATO, incluindo Portugal.
Depois da tomada do poder, as forças talibãs proclamaram o Emirado Islâmico, em Cabul, tendo afirmado desde o princípio da semana que não procuram exercer atos de vingança contra os antigos inimigos e que estão dispostos à "reconciliação nacional".
Os talibãs já disseram que há "muitas diferenças" na forma de governar, em relação ao seu período anterior no poder, entre 1996 e 2001, quando impuseram uma interpretação da lei islâmica que impediu as mulheres de trabalhar ou estudar e que puniu criminosos de delito comum com punições severas como amputações ou execuções sumárias.