06 set, 2021 - 15:34 • Liliana Monteiro , Marta Grosso
A Frente Nacional de Resistência do Afeganistão garante que os combates continuam no vale de Panshir e que os talibãs não controlam a região. Ali está o vice-presidente eleito do Afeganistão, o que torna a zona ainda mais apetecível, considera a investigadora Maria João Tomás.
“Amrullah Saleh é tajique e foi para lá fazer resistência aos talibãs quando o Presidente, Ashraf Ghani, fugiu”, em 15 de agosto.
“Portanto, o único vice-presidente eleito, a única pessoa eleita pelos afegãos, que tem legitimidade para estar à frente do Afeganistão, está no vale do Panshir”, destaca a professora universitária especialista em Médio Oriente.
São os tajiques que habitam este vale de muito difícil acesso. “É um vale rodeado por montanhas e que conta com um desfiladeiro principal de acesso. Quem conhece bem, consegue resguardar-se e ver bem o inimigo. E é onde está uma das etnias que faz face e se opõe aos talibãs, que são os tajiques”, explica.
Além do mais, abriga o vice-presidente do país. “Os talibãs são quem tem, de facto, o poder, mas quem foi eleito está lá ainda. Era o local que faltava”, diz a investigadora.
Tudo depende dos apoios que conseguir. Há interesses vários na zona, explica Maria João Tomás. Segundo a investigadora, Paquistão e Índia sempre apoiaram a Aliança do Norte.
Porquê? “O Paquistão é uma potência nuclear e a Índia também. Se o Paqiustão conseguir ter o Afeganistão controlado, temos um Paquistão muito mais forte e com o Afeganistão do seu lado – porque na altura em que estavam lá as tropas norte-americanas, o Afeganistão não estava propriamente do lado do Paquistão”, explica a investigadora.
“Se o Paquistão conseguir ter o Afeganistão apaziguado, é uma posição de força perante uma Índia”, país vizinho e com quem as relações nunca foram pacíficas. E as movimentações paquistanesas já começaram.
Afeganistão
É uma zona de difícil acesso, situada a cerca de 8(...)
Outro país com interesse na região é a China, por causa do corredor económico chinês. Além disso, “a China tem interesse nos metais que o Afeganistão tem”. O país “é muito rico em pedras raras, é muito rico em lítio, em cobre, em prata, ouro e também tem gás e petróleo”.
Assim, de um modo geral, existe um interesse por parte dos países próximos e aliados em evitar uma guerra civil no Afeganistão.
“Vamos ver agora os Estados Unidos como é que se vão posicionar. De certa forma, era importante que a Aliança do Norte tivesse estes apoios, porque sozinha não vai conseguir”, pois “o vale é muito inóspito, de muito difícil acesso e se não tiverem apoios de fora ficam encurralados no meio das montanhas”, acrescenta Maria João Tomás.
Por outro lado, os “talibãs já disseram que a aliança que têm com a China é fortíssima”, dado que será Pequim a salvá-los dos embargos europeus já prometidos.
O anúncio já tinha sido adiado na sexta-feira e po(...)
Até agora, os talibãs ainda não apresentaram um Governo. “Há ideia de fazerem um Governo como no Irão, onde haja um representante de cada etnia”, diz a professora universitária.
A especialista em Médio Oriente considera que os talibãs poderão estar à espera de conquistar Panshir para incluir também a etnia tajique.
O vale do Panshir situa-se cerca de 80 quilómetros a norte de Cabul, capital afegã, é representa o último reduto da oposição contra as forças talibãs, que tomaram o poder do país durante a fase final da retirada das forças norte-americanas.