21 set, 2021 - 07:01 • Guilherme Correia da Silva, correspondente na Alemanha
Estas são umas eleições históricas na Alemanha. A chanceler Angela Merkel diz adeus à política ativa e todos os candidatos prometem virar a página.
O candidato do SPD, Olaf Scholz, está bem posicionado na corrida à sucessão de Merkel. Armin Laschet, o cabeça de lista da CDU/CSU (de Merkel), vai no seu encalço.
Mas o eleitorado parece dividido. Nas eleições de domingo, serão muito provavelmente os pequenos partidos a decidir quem será o próximo chanceler.
Foi uma saída anunciada. Angela Merkel deixa a chancelaria federal após 16 anos no cargo - mais do que o primeiro chanceler alemão, Konrad Adenauer, e os mesmos que o seu antigo mentor, Helmut Kohl.
Merkel ficará conhecida sobretudo pela forma como geriu "pragmaticamente" quatro grandes crises: a crise financeira de 2008 e a subsequente crise da zona euro, a "crise dos refugiados" de 2015 e a crise pandémica.
A chanceler diz que deixa o cargo com o sentido de dever cumprido: "Creio que dei o meu contributo", afirmou recentemente. Merkel é mais popular do que qualquer candidato na corrida eleitoral. Suceder-lhe não será tarefa fácil.
Há dois políticos com fortes possibilidades de suceder a Merkel na chancelaria: o social-democrata Olaf Scholz e o conservador Armin Laschet.
O partido de Scholz, o SPD, está à frente nas sondagens. Durante a campanha, Scholz tem usado como trunfo a sua experiência no governo federal, pois foi ministro das Finanças e vice-chanceler nos últimos três anos e meio.
O rival Armin Laschet, cabeça de lista da CDU/CSU, também não é um estreante em matérias de governação. Laschet lidera desde junho de 2017 o estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália.
Só que a campanha não lhe corre de feição: este verão, as câmaras de televisão apanharam Laschet a rir-se quando visitava as zonas devastadas pelas inundações no seu estado. A popularidade dos conservadores caiu a pique. Muitos perguntaram se não teria sido melhor se a CDU/CSU tivesse escolhido outro cabeça de lista: por exemplo, Markus Söder, o líder do estado federado da Baviera, bastante mais popular do que Laschet.
Mas Laschet não foi o único a envolver-se em polémicas. Nas últimas semanas, Olaf Scholz teve de responder a perguntas desagradáveis após buscas no Ministério das Finanças no âmbito de uma investigação sobre lavagem de dinheiro. Foi ainda confrontado com o escândalo de evasão fiscal "CumEx" e a falência da empresa de pagamentos eletrónicos Wirecard, alegadamente por ter falhado no seu papel de supervisão. O social-democrata rejeita quaisquer responsabilidades. As polémicas não parecem afetar a popularidade do candidato a chanceler.
As sondagens colocam o SPD com cerca de 25-26% das intenções de voto. A união dos conservadores (CDU/CSU) de Laschet vai mais atrás, com 20-22%. A confirmar-se este valor nas eleições de domingo, seria o pior resultado de sempre dos conservadores.
Contudo, 40% dos eleitores estão indecisos, de acordo com uma sondagem divulgada há dias pelo jornal Frankfurter Allgemeine.
Armin Laschet (CDU) recusa ser o parceiro mais pequeno numa coligação com o SPD. Portanto, se as sondagens não se enganarem, os partidos mais pequenos poderão ter um papel crucial na eleição do chefe do governo federal. Tudo dependerá dos resultados das eleições e das negociações que se seguem. Para já ninguém se atreve a adiantar parcerias.
Em teoria, há várias coligações a três possíveis. Estas são as mais prováveis:
• Coligação "Semáforo": uma união de partidos com as cores vermelha (a cor atribuída ao SPD), amarela (do partido liberal FDP) e verde (do partido "Os Verdes)";
• Coligação "Jamaica": uma união com as cores da bandeira jamaicana: preto (a cor atribuída aos conservadores da CDU/CSU), amarelo e verde;
• Olaf Scholz também não exclui a possibilidade de uma coligação "Rot-Rot-Grün" com todos os partidos de esquerda representados no Parlamento federal: o SPD, o partido A Esquerda e os Verdes.
Um dos temas que mais preocupa os eleitores alemães é o custo de vida e a falta de habitações nas grandes cidades. Na última década, tem havido cada vez mais autorizações para construir residências. Mas não são suficientes para fazer face à procura.
Todos os partidos têm propostas para tentar pôr cobro a este problema. A direita pede menos burocracia no setor da construção, a esquerda planeia mais habitações sociais. SPD, Verdes e o partido A Esquerda querem impor um travão ao preço das rendas, mas conservadores e liberais discordam da medida.
Alemanha
É o fim de uma era: Angela Merkel vai deixar o car(...)
Uma questão bastante discutida é o aumento do salário mínimo. SPD e Verdes pedem um aumento dos atuais 9,60 euros para 12 euros por hora, os liberais do FDP estão contra. Já os conservadores preferem falar na subida da remuneração dos chamados “minijobs” para 550 euros por mês.
Quanto ao tema impostos, a CDU/CSU e o FDP recusam aumentos. Mas SPD, Verdes e A Esquerda querem a reintrodução de uma taxa sobre as fortunas dos mais ricos.
Outro dos temas mais falados nesta campanha tem sido o combate às alterações climáticas. Conservadores e SPD prometem a neutralidade climática do país daqui a 25 anos, mas os Verdes querem mudanças mais depressa. Pedem, por exemplo, que, daqui a pouco mais de um ano, a taxa por tonelada de emissões de CO2 passe de 25 para 60 euros. Um tema que tem agitado os eleitores é a introdução de um limite de velocidade nas autoestradas, a pensar no meio ambiente. Os conservadores e o FDP estão contra. SPD e Verdes exigem um limite de 130 km/h.
Todos os partidos preveem mudanças na política externa e de segurança. Os conservadores e o SPD prometem aumentar o financiamento do Exército alemão para o "modernizar" - o SPD vai mais longe, admitindo a possibilidade de um Exército europeu. De igual modo, FDP e Verdes defendem maior cooperação europeia no setor.
Para o pós-pandemia, Verdes, sociais-democratas e o partido A Esquerda querem virar do avesso o atual sistema de Saúde na Alemanha. Os partidos esperam acabar com a atual divisão dos pacientes em dois grupos: pacientes com seguro de saúde privado (a que só algumas pessoas têm acesso) e pacientes com seguro estatal (que cobre as despesas de saúde básicas). Em vez disso, a esquerda quer introduzir um "seguro do cidadão" universal. Conservadores e FDP rejeitam a ideia.