26 set, 2021 - 08:36 • Guilherme Correia da Silva, correspondente na Alemanha
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A Alemanha vai a votos já neste domingo. O social-democrata Olaf Scholz e o conservador Armin Laschet disputam a sucessão da chanceler Angela Merkel. Scholz vai à frente nas sondagens, mas Laschet está logo atrás. Recordamos o percurso dos candidatos até aqui.
O que fez Olaf Scholz no verão passado? Antecipou-se a todos os rivais e anunciou a sua candidatura à chancelaria federal. "Quero ganhar", declarou o cabeça de lista do Partido Social-Democrata (SPD) há mais de um ano.
O SPD disse ter escolhido Scholz por ele ter "o ímpeto de um chanceler" e porque a Alemanha precisa de um chefe de governo "determinado e experiente. Corajoso mesmo durante as crises, capaz de superá-las com força".
Scholz tem 63 anos de idade. Entrou no mundo da política aos 17 pela mão da juventude social-democrata, os Jusos. Estudou Direito e trabalhou durante muitos anos como advogado. Só mais tarde apostou na carreira política. Primeiro, foi deputado no Parlamento federal; depois, presidente da cidade de Hamburgo; e, por fim, vice-chanceler e ministro das Finanças.
Foi nessa função que Olaf Scholz, logo no início da pandemia da Covid-19, anunciou uma "bazuca" de centenas de milhares de milhões de euros para socorrer as empresas e os trabalhadores afetados pelo confinamento.
Além disso, Scholz ajudou a forjar a "bazuca" europeia. O primeiro-ministro português, António Costa, elogiou-o: "Olaf Scholz teve um papel decisivo para que a União Europeia respondesse de uma forma diferente face às respostas que deu nas crises anteriores".
Mas, no verão passado, Scholz fez outra coisa: durante quatro horas, teve de responder a perguntas dos deputados no Parlamento federal alemão sobre o escândalo financeiro Wirecard.
A Alemanha vai a votos no próximo domingo, 26 de s(...)
Em junho de 2020, a empresa de pagamentos eletrónicos pediu insolvência depois de auditores constatarem que faltavam 1,9 mil milhões de euros nas suas contas. Scholz - o ministro das Finanças - foi acusado de ter falhado no seu papel de supervisor. No entanto, o político garantiu aos deputados que fez tudo como manda o manual.
O que fez Olaf Scholz este verão? Teve de responder novamente a perguntas, de deputados e dos eleitores – desta vez sobre buscas no Ministério das Finanças no âmbito de uma investigação sobre lavagem de dinheiro.
Uma agência do ministério é acusada de ter ignorado avisos sobre transferências bancárias suspeitas. Scholz assegura que, nos últimos anos, tem fortalecido os mecanismos de combate ao branqueamento de capitais.
Apesar dos escândalos, a popularidade de Olaf Scholz está em alta. O SPD lidera as sondagens, embora apenas com cerca de 25% das intenções de voto.
Nos comícios, a "monotonia" que em tempos pontuou os discursos do social-democrata – e que lhe chegou a valer a alcunha de "autómato" ou "Scholzomat" – parece ter-se transformado numa "serenidade" de estadista.
"Chanceler pela Alemanha" é um dos slogans da campanha de Scholz. Sem blazer, nem gravata, apenas de camisa branca, é assim que o candidato se tem apresentado nas suas intervenções, um pouco por toda a Alemanha. Scholz fala sobre os seus planos, caso seja eleito chanceler, mas responde também a perguntas do público.
Como será a relação da Alemanha com os parceiros europeus? Foi uma pergunta colocada esta semana durante um comício na cidade de Bona.
"É claro que temos uma boa tradição de cooperação com a França, mas acho que, como alemães, temos uma tarefa especial", respondeu o político. "Temos a tarefa de garantir que não há uma divisão na Europa entre o norte e sul, entre o leste e o oeste, e temos de garantir que não ficamos a um canto, mal-humorados, a comentar o que os outros podem melhorar."
O SPD propõe transformar o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) num "pacto de sustentabilidade". O partido quer dizer adeus à doutrina da austeridade e sugere transformar a "bazuca" europeia numa "política comum de investimento", para o futuro pós-corona - ou seja, a União Europeia deve continuar a poder contrair empréstimos para financiar investimentos nos Estados-membros, segundo os social-democratas.
Os conservadores alemães estão contra estes planos, pois temem uma "União das Dívidas". Armin Laschet, o cabeça de lista da CDU/CSU, salienta que a "bazuca" foi uma medida excecional em tempos excecionais. "Quando a crise passar […] tanto a política alemã como europeia devem regressar a uma política de estabilidade", disse Laschet ao portal Bloomberg.
O que fez Laschet há um ano, enquanto Scholz anunciava a candidatura à chancelaria? Ver sondagem atrás de sondagem a referir-se a ele como um dos políticos menos populares na Alemanha – entre os conservadores, falava-se sobretudo no nome de Markus Söder, o líder do estado federado da Baviera, para a corrida à sucessão de Angela Merkel.
O verão passado foi "desastroso" para Armin Laschet, escreveu a emissora privada alemã NTV, porque ele "parece ter perdido grande parte da reputação face à sua gestão inconstante da pandemia".
Armin Laschet – que governa o estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália, desde 2017 – foi acusado de "fraca liderança" durante a crise, particularmente depois de centenas de trabalhadores de uma fábrica de processamento de carne terem testado positivo à Covid-19. Enquanto isso, o correligionário Markus Söder brilhava em conferências de imprensa, ao lado da chanceler, anunciando novas restrições.
Mas quando chegou a hora dos conservadores escolherem o seu candidato à chancelaria, em abril desde ano, foi Laschet e não Söder que ganhou o braço de ferro interno – apesar de Söder continuar a ser mais popular entre os eleitores.
O que fez Armin Laschet este ano? Pedir desculpa por se ter rido durante uma visita às zonas devastadas pelas inundações no oeste de Alemanha, que fizeram mais de 180 mortos e destruíram milhares de casas.
Nas sondagens seguintes, a popularidade da União Democrata-Cristã (CDU) afundou, e até os militantes do partido chegaram a questionar se não seria melhor trocar de cabeça de lista.
Nada disso deteve Laschet, que promete "ideias frescas" após 16 anos de Angela Merkel na chancelaria federal: "Temos de impulsionar a modernização: mais inovação, mais confiança e menos burocracia", afirmou.
Armin Laschet foi sempre visto como um aliado de Merkel na defesa da linha centrista da CDU. Por exemplo, em 2015, durante a crise dos refugiados. Enquanto outros conservadores, incluindo Markus Söder, exigiam fortes restrições à imigração, Laschet disse que era preciso estender a mão a todos os que precisavam de apoio. Mais tarde, porém, referiu que o que aconteceu em 2015 não se pode repetir.
Alemanha
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E sobre o futuro da Europa, o que diz Laschet? "A Europa de amanhã precisa de novos impulsos. É do nosso interesse nacional que tenhamos mais Europa", refere o conservador de 60 anos, que nasceu na cidade alemã de Aachen, localizada a menos de duas horas de carro de Bruxelas.
Um dos impulsos prometidos pelo político é o reforço do chamado "eixo franco-alemão". Outros objetivos no programa de Laschet são "ultimar o mercado comum de energia, intensificar o intercâmbio científico" e, por exemplo, contribuir para uma "política externa climática europeia".
Sobre as relações da União Europeia com a China, Laschet avisa: "Uma nova guerra fria seria bastante prejudicial". Ao mesmo tempo, segundo o político, a UE devia fortalecer a sua indústria, investir mais em investigação e criar a sua própria rota da seda, pelo Mar Mediterrâneo até África. "A Europa precisa de ser soberana em vários campos tecnológicos, isso aplica-se também aos produtos de saúde do quotidiano", afirmou em declarações ao diário alemão “Handelsblatt”.
O que fará Armin Laschet no próximo ano? Tudo dependerá da votação deste domingo. Nas sondagens, os conservadores aproximam-se cada vez mais dos sociais-democratas. O trabalho dos partidos nos últimos dias tem sido tentar convencer os muitos eleitores que ainda estavam indecisos.
Armin Laschet já ocupou vários cargos: foi deputado no Parlamento federal, eurodeputado, ministro estadual para a Família e Integração e, por último, ministro-presidente da Renânia do Norte-Vestfália.
O cargo de chanceler seria o próximo passo na "escada" política. Para já, o conservador rejeita ser o parceiro mais pequeno numa coligação – ou se torna chanceler ou nada feito.