28 set, 2021 - 22:49 • Lusa
Portugal enviou para o Afeganistão 4.620 militares ao longo dos últimos 20 anos, avançou o ministro da Defesa Nacional, que destacou, esta terça-feira, os pontos positivos da presença militar no país, apesar de alguns objetivos falhados.
João Gomes Cravinho falava no parlamento, na Comissão de Defesa Nacional, onde foi esta tarde debatido o fim da missão das Forças Nacionais Destacadas no Afeganistão e um relatório elaborado pela Direção-Geral de Política da Defesa Nacional sobre o tema.
O ministro destacou que “ao longo destas últimas duas décadas, Portugal enviou para o Afeganistão 4.620 militares dos três ramos das Forças Armadas” no quadro das Nações Unidas e da NATO, deixando um agradecimento a estes militares pela “forma exemplar" como desempenharam as suas tarefas e lamentando que dois destes militares tenham perdido a vida.
“Podemos naturalmente em democracia discutir livremente se estas missões fizeram ou não sentido para o nosso entendimento da defesa dos valores e dos interesses de Portugal: da minha parte a resposta é inequivocamente positiva quanto a essa pergunta”, disse, apontando, no entanto, que “hoje é evidente que não foram atingidos todos os objetivos destas missões”.
Pelo PSD, a deputada Ana Miguel Santos apontou que o relatório elaborado pela DGPDN, de forma a cumprir as regras de “prestação de contas”, deveria conter os custos que uma missão desta natureza tem para o país, questionando ainda o ministro sobre se o Governo manterá as contribuições anuais de “um milhão de euros” para um fundo da NATO destinado ao exército nacional afegão, para projetos locais em áreas não militares.
Apontando que o montante em causa é gerido pela NATO, Cravinho respondeu que “naturalmente que a partir do momento em que a NATO saiu de Cabul e da forma como saiu, esse fundo foi congelado e não houve mais transferências”.
“Temos cerca de cinco milhões de euros a reaver e estamos a trabalhar com a NATO e com todos os aliados no sentido de organizar esse processo de restituição das verbas que não foram utilizadas”, acrescentou.
O Afeganistão foi um dos temas centrais da semana (...)
Pelo PS, a deputada Lara Martinho disse que “fica quase a pergunta no ar de que negociar com os talibãs, excluindo o governo afegão eleito, as forças armadas nas quais foram investidos milhões e milhões de dólares e os próprios parceiros da NATO, se não foi à partida também de alguma forma reconhecer que eram os talibãs os legítimos herdeiros do poder no Afeganistão e vaticinar o próprio fim do governo afegão eleito (…)”, questionando o governante sobre o impacto desta saída.
Cravinho apontou que, apesar da saída com caos, existiram algumas melhorias no Afeganistão nos últimos 20 anos, considerando que este período “não pode ser considerado um período em que nada aconteceu” só porque começou e terminou com o governo talibã e sustentando que "os dados sobre saúde, sobre educação, sobre direitos humanos são claros e inequívocos".
Pelo BE, o deputado João Vasconcelos apontou que “20 anos depois, depois de todo este trabalho, os talibãs regressam e voltam a sentar-se no poder em Cabul”, considerando que “foi uma derrota e uma humilhação do império americano, mas também da NATO, da qual Portugal faz parte”.
Na mesma linha, o comunista António Filipe lamentou que “a decisão de retirar os militares portugueses do Afeganistão não tenha sido uma decisão soberana do estado português e que não tenha sido feita há muito tempo”, criticando a postura de “maria vai com as outras” dos aliados em relação aos Estados Unidos da América.
Na resposta, Gomes Cravinho vincou que “tanto a entrada como a saída foram decisões soberanas”, apesar de existir um dever de solidariedade entre aliados, apontando que no final do ano passado o país decidiu que “já não havia circunstâncias para prolongar” a participação portuguesa.
O comunista insistiu, questionando o ministro sobre se considera que a presença de forças militares da NATO foi ou não uma derrota e se os EUA foram solidários com os seus aliados.
Cravinho respondeu que “houve a solidariedade possível num quadro de grande desorganização” na saída de tropas, ironizando que a geopolítica não se pode resumir à linguagem do ‘totobola’ “em que há um empate, vitória ou derrota”.
Pelo CDS-PP, Pedro Morais Soares, mostrou preocupação com os cidadãos afegãos que ainda estão no país e colaboraram com as Forças Nacionais Destacadas, aproveitando para dizer que espera que no próximo Orçamento do Estado as verbas para a Defesa sejam reforçadas significativamente – esperança partilhada pelo ministro.
Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO, que se encontravam no país desde 2001, na sequência do combate à Al-Qaeda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Segundo o ministro português, “nas últimas avaliaç(...)