08 out, 2021 - 10:00 • Cristina Nascimento
O Nobel da Paz 2021 foi atribuído a uma dupla de jornalistas - uma filipina e um russo - pela defesa da liberdade de expressão.
Maria Ressa "usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o autoritarismo crescente no seu país de origem, as FIlipinas", justifica a a Academia. Dmitry Muratov é distinguido por há "décadas defender a liberdade de expressão na Rússia, em condições cada vez mais desafiantes".
Ressa e Muratov representam todos os jornalistas "que se erguem por este ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas".
Ressa, 58 anos, é cofundadora do site de notícias Rappler e foi repórter da norte-americana CNN. Muratov, que vai fazer 60 anos no fim do mês, é um dos fundadores do Novaya Gazeta, considerado um dos jornais mais independentes da Rússia.
A distinção destes dois jornalistas foi considerada uma surpresa, dado que entre os favoritos apontados para o Nobel da Paz deste ano estavam nomes como Greta Thunberg, Navalny e a OMS.
Este galardão é um dos mais aguardados do ano. Para além do prémio de um milhão de dólares (cerca de 870 mil euros) que a distinção acarreta para o vencedor, há o valor inestimável de entrar no lote de pessoas que foram reconhecidas por trabalhar pela paz na terra.
Os prémios Nobel celebram este ano o 120.º aniversário desde as primeiras atribuições, em 1901.
O presidente da direção do Sindicato dos Jornalistas diz que não podia estar mais satisfeito com a atribuição deste prémio, considerando que "a desinformação está neste momento a ganhar terreno e furiosamente até a corroer alguns dos pilares da democracia".
Nestas declarações à Renascença, Luís Filipe Simões diz que o Comité Nobel, ao premiar estes dois jornalistas está a defender que se passe "das palavras aos atos".
"É verdade que todos dizemos estar muito preocupados, mas raramente vemos demonstrações de que o jornalismo e a liberdade de expressão deve ser defendida. Aqui é o sinal que o Comité Nobel deu é que chegou a hora de passarmos aos atos. Acredito que isto possa dar frutos, que possa fazer os governos por esse mundo fora refletir um pouco", remata.
Já o diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, Pedro Neto diz esperar que este anúncio sirva de alerta para muitos governos que diariamente tentam censurar ou manipular o trabalho dos jornalistas, uma realidade que acontece não só nas Filipinas ou na Rússia, mas também “aconteceu com Donald Trump, acontece na Turquia com Erdogan, acontece na Venezuela, acontece em muitos regimes e com muitos governos”.
Pedro Neto alude ainda “à fragilidade económica de muitos órgãos de comunicação social em Portugal” que os submete e “ficam à mercê de grandes interesses financeiros que mais facilmente os podem dominar e manipular”.
“No mundo e em Portugal temos que estar muito atentos porque uma liberdade de imprensa forte é essencial para a democracia e para os direitos humanos”, remata Pedro Neto.
O Instituto de Imprensa Internacional também já manifestou, através da rede social Twitter, a sua satisfação pela atribuição do Nobel a dois jornalistas, dos quais Maria Ressa que faz parte dos órgãos do instituto.
"Estamos extremamente orgulhosos que Maria Ressa, membro do executivo do IPI, tenha sido galardoada com o Prémio Nobel da Paz, em conjunto com o jornalista Dmitry Muratov. Que momento incrível para a liberdade de imprensa e parabéns para a Maria Ressa e para o Dmitry Muratov", lê-se.
Também o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, felicitou os dois jornalistas agora distinguidos, salientando a luta corajosa de ambos “pela justiça e liberdade”.
“Parabéns a Maria Ressa e Dmitry Muratov pela atribuição do Prémio Nobel pela vossa luta corajosa pela justiça e liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia”, escreveu Michel na sua conta na rede social Twitter.
O presidente do Conselho Europeu acrescentou ainda que a atribuição do galardão pelo Comité Nobel norueguês é “um sinal importante para a liberdade de imprensa – um valor central europeu e uma condição para a democracia.
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