22 out, 2021 - 17:30 • Lusa
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, responsabilizou a Rússia pela crise do gás na Europa e apelou à União Europeia para coordenar a resposta com a Ucrânia, de acordo com declarações à AFP, esta sexta-feira.
A Europa, com um terço do gás que consome proveniente da Rússia, está confrontada com um aumento dos preços desta matéria-prima na sequência do aumento do consumo com a retoma económica, e após a melhoria da situação epidémica relacionada com a Covid-19.
"Existe uma efetiva agressão gasífera contra a União Europeia", sublinhou, num dia em que os chefes de Estado e do Governo dos 27 estão reunidos em Bruxelas.
"Espero que os países da UE entendam a necessidade sem precedentes de concretizar esforços comuns, que o respeito pelas regras europeias é o único meio de preservar a independência energética europeia. E aqui, a Ucrânia tem algo a oferecer", sustentou.
Segundo Zelensky, a Rússia, ao recusar aumentar as suas entregas, favorece a penúria e o aumento dos preços do gás para obter a ativação do novo gasoduto submarino que liga a Alemanha à Rússia através do mar Báltico, o Nord Stream 2.
A Ucrânia, que cobra taxas de trânsito de gás russo em direção à Europa, opõe-se à ativação deste gasoduto, que evita território ucraniano, mas ainda dependente da anuência de um regulador alemão.
Este projeto tem o apoio de poderosas capitais europeias, com destaque para Berlim, mas outros países consideram que este gasoduto vai implicar mais dependência europeia face a Moscovo, que poderá utilizá-lo como arma energética. A atual crise gasífera seria a primeira manifestação dessa intenção.
"A Rússia quer forçar a Europa a lançar o Nord Stream 2 sem respeitar as regras europeias", considerou Zelensky numa referência a esta infraestrutura com capacidade de exportação anual de 55 mil milhões de metros cúbicos.
Nas declarações exclusivas à AFP, Zelensky propôs um aumento imediato do fornecimento de gás através das redes ucranianas.
"As capacidades de bombagem de gás através da Ucrânia são suficientes não apenas para normalizar a situação, mas também para proteger a Europa de um choque tarifário nos próximos anos".
Nesse sentido, também propôs "condições de armazenamento muito favoráveis" nas suas infraestruturas subterrâneas e uma "simplificação" do trânsito.
No total, assegurou poder garantir o trânsito de 19 mil milhões de metros cúbicos até ao final de 2021.
"A proposta da Ucrânia é absolutamente transparente e muito eficaz, caso a Rússia disponibilize mais gás, a Ucrânia garantirá o seu trânsito em direção à Europa", disse ainda Zelensky.
O líder ucraniano assinalou ainda que o gigante do gás russo Gazprom disponibiliza atualmente 85 milhões de metros cúbicos de gás por dia através da rede ucraniana, quando há dois anos a quantidade diária atingia os 300 milhões de metros cúbicos.
A Rússia desmente qualquer medida de chantagem dirigida à UE, e pelo contrário acusa a Comissão Europeia de ter ficado armadilhada pela sua própria política.