02 nov, 2021 - 11:06 • Daniela Espírito Santo
Numa altura em que tanto se fala sobre o papel do Facebook na disseminação de informação (com as denúncias de Frances Haugen a deixar o mundo em alerta), terão as redações de repensar a sua relação com as redes sociais?
Esta terça-feira, o jornalismo está em destaque na Web Summit, com um palco inteiramente dedicado à temática, o Fourth Estate. A abrir, dois editores, do Washington Post e Axios, tentam perceber o que 2021 trouxe aos media.
Kat Downs Mulder, editora do Washington Post, garante que o jornal não abandonou nenhuma plataforma. "Se há pessoas que usam, queremos estar lá. Precisamos de garantir que informação de qualidade está disponível para toda a gente", assegura. No entanto, admite que a relação do jornal com as redes sociais "está sempre a evoluir". "A tensão torna isso mais complicado, mas é importante continuarmos lá, é importante não fugirmos do ecossistema".
Nicholas Johnson, da Axios, concorda que os media precisam de estar nas redes sociais, mas que os jornalistas, "têm de ser cautelosos". "Se usares uma plataforma para monetizares, estás à mercê do algoritmo. Vemos isso a acontecer a toda a hora. Não podemos ficar dependentes [das redes sociais]. É incrivelmente perigoso", reitera.
Para ambos, a resposta continua a ser clara: "o mais valioso consumidor é aquele que interage connosco diretamente", diz o editor da Axios.
Muita coisa mudou no jornalismo, que agora é um "trabalho de uma equipa" onde se incluem programadores. "Os jornalistas que chegam agora à profissão precisam de novas habilidades", diz Nicholas Johnson. Mas, talvez, um dos aspectos que mais mudou é a "sede" de informação dos próprios jornalistas sobre o sucesso do seu trabalho. A maioria das redações já não vive sem olhar constantemente para análises do tráfego dos seus sites, em tempo real. Mesmo os jornalistas "veteranos" têm "fome" de informação e querem "saber de que forma os seus artigos são consumidos", assegura Johnson.
Mas é só isso que interessa quando se produz informação? "Temos ecrãs com todos os números, a que toda a gente na redação tem acesso. Esperamos que isso ajude os jornalistas a perceber qual é a sua audiência, mas não somos tiranos com isso. Os números não mandam em tudo", defende Kat Downs Mulder. "Há muitas formas de medir o sucesso".
"É saudável que saibamos os números, mas não convém ficarmos obcecados", remata Nicholas.