02 nov, 2021 - 15:00 • Daniela Espírito Santo
Pelo palco do Fourth Estate, no Pavilhão 2 da Web Summit, muitos jornalistas, editores e CEO de media deixaram, esta terça-feira, uma mensagem de esperança: apesar dos desafios colocados pela modernização e pela pandemia, o (bom) jornalismo está vivo e recomenda-se.
Se não vejamos: três CEO na linha da frente dos media modernos passaram em revista o papel da pandemia nas suas empresas e chegaram à conclusão que, no que diz respeito ao jornalismo, o cenário não foi totalmente desfavorável. Elizabeth Bramson-Boudreau, CEO da MIT Tech Review, Nicholas Thompson, com igual cargo no The Atlantic, e Eric Schurenberg, líder na Fast Company, defenderam todos a mesma ideia: a pandemia não foi "má" para os media. "As subscrições explodiram na pandemia", garantiu Nicholas Thompson. "A publicidade foi a primeira a desaparecer, mas também a primeira a regressar", acrescenta, por sua vez, Eric Schurenberg.
O que é que fez a diferença? O bom jornalismo, que contraria o descrédito na imprensa, produto de uma "erosão" que acontece "há décadas", segundo Schurenberg. "As pessoas devoraram conhecimento durante a pandemia, o que é bom sinal".
Mais do que nunca o jornalismo de alta qualidade foi necessário, defenderam todos. "A informação é uma instituição dedicada à verdade. Além disso, a desinformação não funciona assim tão bem: quem acredita que as vacinas não funcionam terá mais hipóteses de ficar doente", defendeu o CEO da Fast Company.
Elizabeth Bramson-Boudreau, CEO da MIT Tech Review, concorda e mostra-se otimista quanto ao futuro do jornalismo. "Somos uns privilegiados, pois a verdade é que nos vai levar para o futuro. O bom jornalismo vai guiar o caminho".
Na "talk" seguinte, apenas um convidado em palco. Um homem, um slide e um monte de folhas, mas John Witherow, do britânico The Times, apenas precisou desses elementos para passar uma mensagem: toda a gente fala de salvar o jornalismo de qualidade, mas isso implica que o mesmo precise de ser salvo, coisa que Witherow não acredita ser o caso.
"O bom jornalismo não precisa de salvação. Está a prosperar. Está a expandir-se e a chegar a novas audiências", defendeu o veterano jornalista britânico, que recordou o caminho tortuoso, mas seguro, dos jornais impressos até aos dias de hoje. "Precisamos de ganhar perspetiva. O jornal onde trabalho, o The Times, tem mais de 200 anos. Esteve na fila da frente da História. Disseram que o jornal em papel ia acabar quando surgiu a televisão... e cá estamos", relembrou, com humor.
"O que está a diminuir é o jornalismo tabloide, popular", salienta. A boa imprensa está a ser salva, diz o britânico, pela Internet. "A Internet e os outros média estão a salvar a imprensa escrita... Podemos dizer adeus com felicidade aos litros de tinta e às árvores cortadas. Pensem o quão ecológicos e limpos podemos tornar-nos no futuro", defendeu.
Pelo caminho, insiste na ideia de que esta é a melhor altura para se chegar a esta indústria e incentiva os jovens a explorar o jornalismo como profissão. "Conseguimos chegar a cada vez mais pessoas, cada vez mais barato e com mais qualidade. E sim, até temos imagens que mexem, como a televisão", ironizou.