07 nov, 2021 - 10:30 • Lusa
A primeira semana da cimeira do clima, COP26, que decorre no Reino Unido, saldou-se por promessas de milhões para combater a desflorestação e apoiar os países mais pobres, mas também por manifestações a exigir mais.
Foi marcada pela presença em Glasgow dos líderes mundiais e pelas queixas das organizações não-governamentais de falta de acesso à cimeira, manifestantes exigiram o fim dos combustíveis fósseis, para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, mas de concreto para já ficam, especialmente, as promessas de redução nas emissões de metano e menos investimento no carvão.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, prometeu em Glasgow que o país, o terceiro mais poluidor do mundo, será neutro em carbono em 2070 e que reduzirá até 2030 as emissões de gases com efeito de estufa em mil milhões de toneladas, ano em que metade das necessidades energéticas serão satisfeitas com energias renováveis.
O ano de 2070 representa 20 anos mais do que a meta da União Europeia, mas mesmo assim a promessa indiana foi elogiada. A China, o maior poluidor do mundo, não compareceu e o seu Presidente, Xi Jinping, numa declaração a partir de Pequim, apenas disse que quer dar prioridade a uma "economia verde" e que é preciso mais apoios aos países em desenvolvimento.
Os países ricos prometeram 100 mil milhões de dólares por ano (86 mil milhões de euros), a partir de 2020, para os países menos desenvolvidos, os menos responsáveis pelas alterações climáticas, para ajudar na adaptação. A promessa nunca foi cumprida, mas na cimeira de Glasgow a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu mais 4,3 mil milhões de euros de financiamento a países vulneráveis.
Esse e outros contributos anunciados, como o do Japão, levou o enviado especial dos Estados Unidos para as alterações climáticas, John Kerry, a dizer que a meta dos 100 mil milhões será alcançada no próximo ano.
Em Glasgow foi assinado um acordo global para pôr fim à desflorestação até 2030, num dos dias da cimeira especialmente dedicado às florestas. A Comissão Europeia, anunciou a sua presidente, Ursula von der Leyen, vai apoiar com mil milhões de euros o programa de combate à desflorestação. A responsável comprometeu-se a reduzir a pegada de consumo europeia nos territórios e florestas, afirmando que os europeus não querem comprar produtos que provocam desflorestação ou degradação das florestas.
Ao mesmo tempo que o Brasil anunciava a partir de Brasília um objetivo mais ambicioso de redução de emissões, e de eliminar a desflorestação ilegal até 2028, em Glasgow representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e os governos da Alemanha e dos Países Baixos anunciavam um projeto conjunto para a proteção das florestas e da terra na região amazónica que implica um investimento de 30 milhões de euros.
Também em Glasgow o Presidente da República Democrática do Congo e o primeiro-ministro britânico anunciavam o apoio a um programa para proteger a floresta da Bacia do Congo, avaliado em 500 milhões de dólares (431,7 milhões de euros) nos primeiros cinco anos.
Sendo que a produção de energia elétrica através do carvão é uma das maiores responsáveis pela emissão mundial de gases com efeito de estufa a Aliança Global para o Abandono do Carvão (PPCA na sigla original) anunciou na cimeira de Glasgow a entrada de mais 28 Estados para a organização, um deles a Ucrânia, o terceiro maior utilizador de carvão na Europa.
A PPCA é uma aliança de governos e organizações do setor privado internacional, criada para acelerar a transição do carvão para energias limpas. À Aliança pertencem agora 165 Estados, Portugal incluído.
E Portugal está também num grupo de mais de 20 países e instituições que na semana que passou anunciou em Glasgow que vai deixar de financiar projetos de combustíveis fósseis até ao fim de 2022. A China e a Rússia não assinaram.
Na cimeira de Glasgow mais de 20 países também subscreveram uma declaração que defende o fim da construção de novas centrais elétricas a carvão, comprometendo-se a promover fontes energéticas limpas.
Mais de 100 países, entre os quais Portugal, mas também os Estados Unidos e a União Europeia como entidade, comprometeram-se nos primeiros dias da cimeira a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, em comparação com 2020.
O anúncio em Glasgow, o Compromisso Global do Metano, é relevante, porque o metano é um poderoso gás com efeito de estufa, responsável por cerca de 30% do aquecimento do planeta desde a época pré-industrial, com um efeito de aquecimento cerca de 29 vezes superior ao dióxido de carbono (CO2) durante um período de 100 anos, e cerca de 82 vezes durante um período de 20 anos.
Os países envolvidos representam cerca de 70% do PIB mundial. Há pelo menos 328 milhões de dólares prometidos para apoio financeiro e técnico para a implementação do compromisso, que se concretizado pode reduzir em 0,2 graus celsius o aquecimento global. Nem a Rússia nem a China assinaram o compromisso.
Da primeira semana da conferência do clima saiu também um acordo que, tem sido referido em Glasgow, pode no futuro ser replicado. Os Estados Unidos e vários países europeus anunciaram um apoio de 8,5 mil milhões de dólares (7,3 mil milhões de euros) à África do Sul para ajudar o país a gerir a transição energética, afastando-se do carvão.
O objetivo é levar a África do Sul, muto dependente do carvão para fornecer energia elétrica, a apostar numa economia de baixas emissões, evitando a emissão até entre 1 a 1,5 gigatoneladas de emissões de gases com efeito de estufa nos próximos 20 anos.
Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, considerou que a parceria abre um precedente de como os países podem trabalhar em conjunto para acelerar a transição para a energia e tecnologia limpas e verdes.
A tecnologia pode ser uma base para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa e aproveitando a COP26 a União Europeia e o empresário norte-americano Bill Gates assinaram uma parceria de aposta nas novas tecnologias, que envolve também o Banco Europeu de Investimento.
O anúncio da parceria já tinha sido feito em junho mas esta só foi formalizada na primeira semana da COP. Pretende, entre 2022 e 2026, mobilizar até 820 milhões de euros para acelerar a implantação e comercializar rapidamente tecnologias inovadoras que ajudem a estratégia europeia de atingir as suas metas climáticas, nomeadamente de reduzir em 55% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
Na primeira semana da cimeira do clima o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, prometeu fundos de 8,64 mil milhões de euros ao longo de cinco anos para promover a transição energética na Ásia.
E em Glasgow foi também anunciado que a uma aliança de 450 empresas financeiras se comprometeram em investir 112 mil milhões de euros na transição para uma economia descarbonizada, até 2050. Com a promessa de financiamento, a Aliança Financeira de Glasgow para as Zero Emissões Líquidas, criada em abril para mobilizar estes fundos, duplica os 60 mil milhões de euros avançados até agora.
Numa semana em que organizações não-governamentais se insurgiram por não poderem assistir às negociações da conferência, facto que os organizadores justificaram com a pandemia de covid-19, a jovem ativista sueca Greta Thunberg disse que a COP26 é a mais exclusiva das cimeiras mundiais do clima, afirmando também numa manifestação que a COP26 falhou, reduzindo-se a duas semanas de "blá, blá, blá".
Greta Thunberg mas também milhares de outros jovens desfilaram por duas vezes em Glasgow exigindo ser envolvidos no processo e medidas concretas de luta contra as alterações climáticas, ostentando cartazes com frases como ""COP26, age agora, para os combustíveis fósseis" ou "Parem as Alterações climáticas". O protesto de sábado em Glasgow foi replicado e várias outras cidades, incluindo de Portugal.
Num dia especialmente dedicado aos oceanos (na sexta-feira) o Reino Unido, anfitrião da conferência, anunciou a mobilização de sete milhões de libras (oito milhões de euros) para proteger e "restaurar a saúde e resiliência" dos oceanos.
A presidência britânica da Conferência marcou o "Dia da Ação dos Oceanos" com um apelo aos líderes mundiais a tomarem medidas de proteção dos oceanos que permitam alcançar a neutralidade carbónica e manter ao alcance o aquecimento global a não mais de 1,5 graus Celsius.
Os governos de 45 países comprometeram-se no sábado em Glasgow a tomar medidas para avançar no sentido de uma agricultura e gestão da terra mais natural e sustentável, medidas que terão um impacto especial na América Latina, África e Ásia.