21 nov, 2021 - 10:02 • Maria João Costa
“Nem tudo é um mar de rosas em Timor-Leste”, desabafa José Ramos-Horta. O Prémio Nobel da Paz admite que “tem havido grandes falhanços” e denuncia uma situação de “extrema pobreza infantil” e “subnutrição” que considera “inaceitável”.
“Em 20 anos de independência, cada um de nós tem de fazer exame de consciência e perguntar, porquê?”, afirma o antigo Presidente timorense, em entrevista à Renascença no âmbito da primeira Bienal Internacional de Poesia de Oeiras.
Para o futuro próximo, Ramos-Horta tem um desejo: “Espero que nos próximos 5, 10 anos eliminemos a extrema pobreza geral, a subnutrição infantil, e vamos cuidar mais das mães, sobretudo em estado de fertilidade e gravidez.”
Nesta entrevista feita a partir de Díli, o também antigo primeiro-ministro perspetivou que “Timor-Leste vai ser um grande pivô de investimentos regionais”. Na sua opinião, “toda a gente vai querer investir em Timor-Leste a partir de 2023”.
A razão, justifica Ramos-Horta, é que o país fará “parte de uma economia regional de 60 milhões de pessoas com três triliões de dólares de PIB de toda a região”.
Segundo Ramos-Horta, “não vêm investir em Timor por causa da economia de Timor. Vêm investir, porque é mais fácil investir em Timor do que na Indonésia ou noutros países que já estão saturadas de investimento”. O Nobel que partilhou o prémio com o Bispo D. Ximenes Belo espera que, então, Timor tenha um “grande arranque económico”.
Questionado sobre o papel de Portugal, Ramos-Horta defende que Lisboa “poderia ajudar mais ao abrir mais uma ou duas escolas portuguesas” em Timor-Leste. Nesta entrevista na Bienal organizada no âmbito da candidatura de Oeiras e Capital Europeia da Cultura em 2027, Ramos-Horta explicou que há outras escolas no território.
Nas “chamadas CAFE [Centros de Aprendizagem e Formação Escolar]” há também professores portugueses a dar aulas.
“São escolas timorenses, mas onde por um acordo entre Timor e Portugal vieram professores portugueses. Tudo às expensas de Timor”, explica o antigo governante.
Ramos-Horta denuncia, contudo, que os portugueses recebem mal. “Pagamos imenso aos nossos políticos e parlamentares e pagamos miseravelmente aos professores”, refere.
Na sua opinião, “esses professores que vêm de Portugal deveriam ter um incentivo maior”. Ramos-Horta gostaria de ver aumentado o número destas escolas em Timor-Leste.