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Migrações

França e Reino Unido de costas voltadas por causa de migrantes

26 nov, 2021 - 14:03 • Filipe d'Avillez com Lusa

Os franceses não gostaram da sugestão de Boris Johnson de que França acolha de volta os migrantes ilegais que chegaram ao Reino Unido nos últimos dias.

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As lideranças de França e do Reino Unido estão de costas voltadas por causa do tema da imigração ilegal através do Canal da Mancha.

Dezenas de imigrantes morreram ao tentar atravessar as águas na passada quarta-feira, motivando os Governos dos dois países a tentar encontrar melhores soluções para combater o tráfico e evitar futuras tragédias.

Numa primeira decisão, Paris convidou a ministra Britânica da Administração Interna para participar num encontro em Paris, no domingo. Contudo, esta sexta-feira o convite foi cancelado.

A decisão de Paris foi tomada após ser divulgada uma carta do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pedindo aos franceses que aceitassem de volta os migrantes que chegaram ilegalmente ao Reino Unido.

Agora o Reino Unido está a pedir a França que reconsidere. “Nenhuma nação pode resolver isto sozinha. Espero que os franceses reconsiderem”, afirmou o ministro dos Transportes, Grant Shapps, à BBC.

“É do nosso interesse. É do interesse deles. É certamente do interesse das pessoas que estão a ser traficadas para o Reino Unido, resultando nestas cenas trágicas que estamos a assistir – pessoas a perder as suas vidas”, acrescentou.

O ministro referia-se ao afogamento de pelo menos 27 pessoas na quarta-feira quando tentavam atravessar o Canal da Mancha de França para o Reino Unido, incluindo uma mulher grávida e três crianças. Duas pessoas sobreviveram ao naufrágio.

As travessias do Canal da Mancha por migrantes até ao Reino Unido são um tema de tensão regular entre Paris e Londres, com as autoridades britânicas a acusar os franceses de esforços insuficientes para os impedir de embarcar, apesar de contribuírem com ajuda financeira.

“Amigos e vizinhos devem trabalhar juntos, não há outra maneira de resolver o problema”, insistiu Grant Shapps.

Na carta ao presidente francês, Emmanuel Macron, Boris Johnson expôs em cinco pontos um plano para combater as travessias de migrantes ilegais, nomeadamente patrulhas conjuntas para evitar que mais barcos saiam das praias francesas, o uso de tecnologia como sensores e radares, patrulhas marítimas recíprocas nas águas territoriais de cada país, vigilância aérea e partilha de informações.

“Um acordo com França para receber de volta os migrantes que atravessam o Canal da Mancha (...) teria um impacto imediato e significativo”, defendeu Johnson no documento, divulgado também na rede social Twitter na quinta-feira à noite.

Numa mensagem a Priti Patel à qual a agência France-Presse teve acesso, o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, considerou que, se a carta do primeiro-ministro britânico é uma “desilusão”, o facto de ter sido tornada pública é “pior” ainda.

Como resultado, cancelou o convite a Patel para a reunião em Calais, no norte de França, com os ministros belgas, alemães e holandeses responsáveis pela Imigração, bem como com a Comissão Europeia.

"Que sejam sérios"

O tema foi comentado ainda pelo Presidente francês. Emmanuel Macron acusou Boris Johnson de não ser sério. “Fico surpreendido com métodos quando não são sérios. Não se comunica entre líderes sobre estes temas através de mensagens públicas e do Twitter”, disse Emmanuel Macron em Roma, durante uma conferência de imprensa com o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, após a assinatura de um acordo bilateral.

Macron garantiu que o que se passa no Canal da Mancha “é muito sério”, que a França “assumiu a sua responsabilidade em matéria de migração” e que “a verdadeira resposta é uma colaboração séria” para lutar contra as redes de traficantes de seres humanos.

O Presidente francês reiterou que na reunião europeia sobre migração agendada para domingo em Calais, para a qual o convite ao Reino Unido foi retirado, “os ministros de França e da Europa trabalharão seriamente num assunto sério e então veremos o que deve ser feito com o Reino Unido se eles decidirem ser sérios”.

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