15 dez, 2021 - 11:01 • Sofia Freitas Moreira com Reuters
Quando os talibãs chegaram ao poder, os músicos afegãos sabiam que o seu futuro estava em jogo. A maestrina Shogufa Safi, de 18 anos de idade, escapou. Agora, em Portugal, na sua nova casa, sente-se segura, apesar de o sonho ser um dia voltar e levar a música de volta à sua cidade natal.
Ainda não senti paz na minha vida”, disse Safi depois de, na segunda-feira, ter aterrado em Lisboa, com outros 272 membros do Instituto Estatal Afegão de Investigação Musical (ANIM), incluindo estudantes, pessoal e familiares.
"O meu grande sonho é regressar ao Afeganistão, é um grande sonho", disse Shogufa. "Acredito que voltarei e ensinarei a geração mais jovem".
Safi é uma das músicas da famosa orquestra só de mulheres do Afeganistão, Zohra, que faz parte da ANIM. O grupo atuou em alguns dos principais locais de concertos do mundo, desde o Carnegie Hall, em Nova Iorque, ao Royal Opera House, em Omã.
Segundo o Instituto da Música, Portugal concedeu asilo a todos os membros da ANIM e aos seus familiares mais próximos, o que faz com que este seja o maior apoio à comunidade afegã independente desde que os talibãs tomaram o poder em agosto deste ano.
Entre 1996 a 2001, a música foi proibida sob a opressiva administração dos talibãs. Os muçulmanos extremistas ainda não restabeleceram oficialmente a proibição, mas os talibãs ordenaram às estações de rádio que deixassem de passar música em algumas partes do país.
Assim que os militantes talibãs assumiram o controlo, o diretor e fundador da ANIM, Ahmad Sarmast, soube que precisava de levar os estudantes para fora do país. Antes de virem para Portugal, fugiram para o Qatar com a ajuda de vários doadores.
"Estou muito feliz por estar em Portugal para ver todos os meus amigos a sorrir. Eles são o futuro do Afeganistão", disse Marzia Anwari, outra jovem maestrina.
Alguns dos músicos receberam novos instrumentos, desde tambores a violinos. Os seus antigos instrumentos ficaram no campus da ANIM em Cabul, que é agora o centro de comando dos talibãs.
O futuro da música pode parecer sombrio na sua cidade natal, mas Sarmast diz que os estudantes podem não só estar seguros e seguir sonhos artísticos, como também sobreviver à rica herança musical do Afeganistão. “Estou confiante”, declarou o diretor da escola.
A ANIM vai continuar em Lisboa, no próximo ano, e voltará ao grande palco à medida que o grupo se acalmar.
"Seria impossível para os talibãs silenciar o povo do Afeganistão", disse Salmast.