26 jan, 2022 - 13:51 • Carla Fino , Marta Grosso
Apesar de ter passado a depressão, a tempestade tropical “Ana” veio agravar a situação já frágil das populações de Moçambique, sobretudo nas províncias de Tete, Sofala, Manica e Zambézia.
“Nos últimos três anos, Moçambique deve ter sido assolado por vários tufões. Estamos a falar de comunidades que ainda estão num processo de recuperação dos anteriores impactos e que agora voltam a ser impactadas”, explica Dinis Chembene, coordenador da organização não-governamental portuguesa OIKOS.
À Renascença, este responsável recorda que decorre agora “a época agrícola e as pessoas vão perder grande parte do seu sustento”. Muitas plantações estavam a meio do seu ciclo.
Os impactos da passagem da tempestade não foram ainda todos apurados, diz a ONG, adiantando que várias comunidades ficaram isoladas, tendo “as equipas da Oikos já reportado muitas zonas de produção agrícola totalmente inundadas”.
Milho, arroz e mandioca são os campos mais afetados e também as principais fontes de alimentação das famílias mais vulneráveis. Segundo os dados oficiais disponíveis, a tempestade destruiu 2.252 hectares.
Prevê-se, pois, o agravamento da fome, não só agora como durante a época seca, a partir de abril.
Dinis Chembene diz que o trabalho da ONG passa, por isso, pela recuperação de meios de subsistência das populações, além da agricultura.
“Nós, na OIKOS, temos um projeto financiado pelo [Instituto] Camões, que está em curso e que era de resposta ao ‘Idai’ e aí também combinámos a questão de recuperação de meios de subsistência, que é basicamente a agricultura e criámos outras fontes de rendimento para as famílias, de forma a que, quando há um impacto, haja um recurso para pelo menos os primeiros dias. Então trabalhámos com pequenos negócios, grupos de crédito e poupança alternativa que reforça o sistema de apoio social ao nível das comunidades”, explica.
A passagem desta tempestade pelo país provocou 10 mortos e afetou cerca de 60 mil pessoas. A “Ana” passou ainda por Madagáscar e o Malaui, deixando um rasto de destruição que provocou, até agora, perto de meia centena de mortos.