27 jan, 2022 - 10:21 • Olímpia Mairos , com Lusa
A advogada de João Rendeiro disse esta quinta-feira que vai propor ao tribunal que o julgamento da extradição do ex-banqueiro seja marcado para 13 de junho, depois de ter acesso aos documentos, previsivelmente a 1 de abril.
"Esperamos ter cópias dos documentos, de volta de Portugal, a 1 de abril", referiu a advogada June Marks aos jornalistas à porta do tribunal.
A defesa de João Rendeiro e o ministério público sul-africano mantiveram hoje um encontro antes de o ex-banqueiro ser novamente presente a tribunal em Verulam, arredores de Durban.
A extradição requerida por Portugal ainda não estará em discussão, mas sim outros detalhes pré-julgamento como a violação de um selo que envolvia a documentação de extradição enviada por Portugal para a África do Sul.
O ex-presidente do BPP João Rendeiro chegou a tribunal num carro celular pouco depois das 09h00 (07h00 em Lisboa).
À semelhança do que aconteceu na semana passada, o ex-banqueiro saiu do carro sob forte escolta policial.
Detido em 11 de dezembro na cidade de Durban, após quase três meses fugido à justiça portuguesa, João Rendeiro foi presente ao juiz Rajesh Parshotam, do tribunal de Verulam, que lhe decretou no dia 17 de dezembro a medida de coação mais gravosa, colocando-o em prisão preventiva no estabelecimento prisional de Westville.
A defesa de João Rendeiro alega que o ex-presidente do BPP já foi alvo de "tentativas de extorsão" e que os seus direitos humanos estão a ser violados na prisão de Westville, em Durban, na África do Sul.
Segundo uma carta enviada às Nações Unidas (ONU), a advogada June Marks queixou-se das condições "terríveis" do estabelecimento prisional no qual o antigo banqueiro se encontra detido desde 13 de dezembro, ao afirmar que "há mais de 50 pessoas na cela" e que não há "roupa de cama verdadeira" disponível, apelando a que a Comissão da ONU para os Direitos Humanos vá inspecionar "o mais depressa possível" Westville.
A prisão sul-africana, onde João Rendeiro está detido,
era uma das que ia ser visitada em outubro do ano passado pelo relator
especial das Nações Unidas contra a tortura.
A inspeção acabou por ser adiada por causa da Covid-19 e do aparecimento da variante Ómicron, precisamente na África do Sul, e embora não tenha sido ainda reagendada, deverá realizar-se este ano.
A informação é avançada à Renascença por Duarte Nuno Vieira, consultor forense do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, que faz parte da equipa criada o ano passado para visitar várias prisões sul-africanas.
O ex-banqueiro foi condenado em três processos distintos relacionados com o colapso do BPP, tendo o tribunal dado como provado que retirou do banco 13,61 milhões de euros. Das três condenações, apenas uma já transitou em julgado e não admite mais recursos, com João Rendeiro a ter de cumprir uma pena de prisão efetiva de cinco anos e oito meses.
João Rendeiro foi ainda condenado a 10 anos de prisão num segundo processo e a mais três anos e seis meses num terceiro processo, sendo que estas duas sentenças ainda não transitaram em julgado.
O colapso do BPP, em 2010, lesou milhares de clientes e causou perdas de centenas de milhões de euros ao Estado.