13 fev, 2022 - 12:05 • Lusa
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As taxas de vacinação anti-covid-19 nos países africanos de língua portuguesa estão acima da média africana, para o que têm contribuído as doações feitas por Portugal, diz o diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
“Neste momento, e se olharmos para a média ao nível de África, os nossos países estão acima da média (…) e aqui temos de realçar que Portugal teve alguma responsabilidade nestes dados, porque Portugal doou vacinas aos PALOP e isso tem estado a ajudar alguns países a melhorarem as suas coberturas”, considera Filomeno Fortes.
Portugal já doou cerca de sete milhões de vacinas contra a Covid-19, das quais metade foi entregue aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste, segundo disse esta semana à Lusa o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Para o responsável pela diplomacia portuguesa, o programa português de doação de vacinas aos PALOP “foi e tem sido um sucesso muito reconhecido em todos esses países”.
Em entrevista telefónica à Lusa a propósito do segundo aniversário do primeiro caso de Covid-19 em África, Filomeno Fortes lembrou que o continente tem neste momento uma cobertura vacinal de cerca de 11%.
Já entre os PALOP, Cabo Verde tem neste momento 52% da população vacinada, Moçambique tem 30%, Angola está a chegar aos 16%, São Tomé e Príncipe tem 31% e a Guiné-Bissau está com cerca de 15% de cobertura.
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Instado a identificar as oportunidades que a pandemia trouxe a África, o especialista defendeu que contribuiu para a melhoria dos sistemas de saúde africanos.
“Um fator positivo [da Covid-19] em África foi que os nossos países melhoraram os seus sistemas de cuidados intensivos. Aí sim, verificámos que houve um investimento muito forte a nível do continente africano de uma forma geral, mas particularmente em Angola e em Moçambique”, disse Filomeno Fortes.
Outra área em que houve progressos foi na testagem, lembrou o médico angolano, exemplificando com o caso da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe, que não tinham capacidade para fazer o diagnóstico biomolecular da Covid-19 e neste momento já têm.
Também Angola, em colaboração com o IHMT, passou a contar com um laboratório de referência em biologia molecular.
“Capacitação técnica, capacitação dos recursos humanos, melhoria da capacidade de cuidados intensivos foram os fenómenos mais notáveis em relação à resposta à pandemia”, disse o especialista em saúde pública e epidemiologia.
Sobre a resposta dos países lusófonos à pandemia, Filomeno Fortes destacou o caso de Cabo Verde, que “integra o grupo de meia dúzia de países africanos com melhor nível de testagem”, “organizou-se do ponto de vista de cuidados intensivos” e, juntamente com a Guiné-Bissau, foi dos países que não tiveram diminuição da cobertura das outras vacinas.
“Tiveram uma ação bastante organizada, quer em relação à testagem, quer em relação ao acompanhamento de casos, controle de fronteiras e cuidados intensivos. Portanto, Cabo Verde foi um grande exemplo”, disse.
Moçambique, que inicialmente sofreu as consequências da sua posição geopolítica – de fronteira com a África do Sul e com o Zimbabué –, conseguiu depois “melhorar a sua capacidade, até a nível dos cuidados de saúde primários”; enquanto Angola foi mantendo o controle regular da situação, tendo um número de casos por milhão de habitantes muito baixo.
“Eu penso que os nossos países, de uma forma ou de outra, foram gerindo bem a situação”, disse o diretor do IHMT.
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Num apanhado da situação da Covid-19 nos PALOP, Filomeno Fortes disse que Moçambique é o que ocupa a primeira posição em termos de morbilidade e mortalidade e já ultrapassou os 200 mil casos.
É o décimo quarto país a nível da África em termos de morbilidade e tem neste momento um pouco mais de 2.000 óbitos.
“Angola está na 20.ª posição a nível da África e em segundo lugar em relação à gravidade da doença nos PALOP, com cerca de 100 mil casos e cerca de 1.900 óbitos. Cabo Verde tem cerca de 56 mil casos notificados e está com 400 óbitos, o que pode parecer pouco, mas representa 700 mortes por milhão de habitantes, uma taxa que “acaba por ser um pouco elevada”.
A Guiné-Bissau vem a seguir a Cabo Verde, com 36.000 casos – “está na 52.ª posição do ‘ranking africano’, mas tem 432 óbitos. São poucos óbitos de uma forma geral, mas em termos de mortalidade por milhão de habitantes é bastante acentuada”.
São Tomé e Príncipe é o país que tem menos casos: 6.000 infeções e 71 óbitos.
“A tendência atual é para a redução do número de casos internados em praticamente todos os países lusófonos, concluiu o diretor do IHMT.
O diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical defende que a única solução para a baixa taxa de vacinação anti-covid-19 em África é a imunidade natural, que se espera seja alcançável com a variante Ómicron.
"Esperamos que, com a Ómicron, consigamos ter uma imunidade natural em substituição desta ausência da cobertura vacinal. É a única hipótese que nos resta neste momento", diz Filomeno Fortes.
Em 14 de fevereiro de 2020, o Governo egípcio confirmou o primeiro caso de coronavírus no país, que foi também o primeiro caso confirmado em África.
Desde então, o continente registou 10 milhões de casos de infeção com o coronavírus e 245 mil óbitos, o que representa 2,5% da morbilidade global e 4% da mortalidade em todo o mundo, embora África represente 17% da população global.
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Cerca de um ano após o início da vacinação no continente, e quando no mundo a taxa de vacinação ao nível global já ultrapassa os 50%, África continua a ser o continente com menos vacinados e apenas 11% da população tem as duas doses iniciais da vacina, diz o diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
Perante este cenário, e com a perspetiva, já admitida pela Organização Mundial da Saúde, de o continente não conseguir alcançar a meta de ter 70% da população vacinada antes de 2024, Filomeno Fortes diz que alguns países africanos estão a ponderar aliviar medidas de segurança para permitir alcançar a imunidade natural.
Essa possibilidade surge do facto de ter surgido uma variante, a Ómicron, que não é tão letal, por um lado, mas por outro lado confere imunidade natural a quem é infetado, explica o cientista.
O especialista em saúde pública e epidemiologia recorda, no entanto, que, se os países aliviarem excessivamente as medidas de segurança, haverá mais infeção e isso levará a uma sobrecarga dos serviços de saúde, que já estão debilitados.
Portanto, a solução, defende, será os países africanos "permitirem que as pessoas se movimentem mais, contactem mais", mas simultaneamente "reforçar a receção destes doentes com medidas paliativas, com medidas de controle e com um acompanhamento domiciliar, sem prejudicar muito as unidades sanitárias".
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Filomeno Fortes lembra que a imunidade natural através do próprio vírus é algo que "acontece secularmente", exemplificando que há regiões em África onde 60% ou 70% da população vive com o parasita da malária em circulação em equilíbrio com organismo humano.
"Isto é o que se perspetiva agora com a situação da Ómicron", conclui.
A Covid-19 provocou pelo menos 5,78 milhões de mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.
A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.
A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante do mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.