13 fev, 2022 - 09:06 • Teresa Almeida , João Cunha
É fotógrafo de profissão e está na Ucrânia desde a semana passada. Igor Aboim já passou por várias cidades ucranianas e falou com muitos cidadãos ucranianos e é por isso que admite à Renascença estranheza com a calma que encontrou, sobretudo em cidades como Kharkiv, Kramatorsk e até Kiev.
“Encontrei, ao contrário do que esperava, um ambiente muito menos tenso. Só me diziam que a preocupação só subia quando as notícias davam conta de alguma tensão”, diz Igor Aboim, adiantando que na capital, por exemplo, a vida corre para já com bastante normalidade: “achava que ia encontrar uma tensão maior”.
Em Kiev, “as pessoas fazem as coisas que têm a fazer: vão trabalhar, vão às compras… nas ruas, a vida segue normalmente”, remata.
Igor Aboim está agora em Dnipro, a quase 500 quilómetros de Kiev. Tenta chegar a Donetsk, o epicentro da tensão, mas até ao momento não foi possível, porque “para entrar em Donetsk tenho de ter autorização das autoridades e, apesar de ter pedido já há mais de um mês, não consegui tê-la até agora”, explica. O mais perto que diz ter conseguido foi estar a seis quilómetros do aeroporto, em Avdiivka.
É aqui, nesta pequena cidade já muito maltratada por conflitos anteriores e tomada pelos separatistas em 2014, que Igor Aboim diz já sentir uma população bem mais recatada e receosa.
“Estive lá apenas um dia e, aí sim, notei. Além de visualmente – porque se vê o rasto de destruição – nota-se que as pessoas andam mais a medo, desconfiadas, muito pouca gente na rua”, descreve. E reforça: “nota-se uma diferença maior, de mais medo, ao contrário do que acontece no resto do país que visitei”.
A Ucrânia pode esquecer recuperar aquelas províncias, porque nunca mais vai acontecer.
Alex Pinto também concorda que há locais onde a tensão se sente mais do que outros.
“Putin não vai para casa de mãos a abanar, pelo que há todas as indicações, na minha perspetiva, que ele possa fazer uma mossa em Dombass e Lugansk. Porquê? Porque nestes anos todos tem andado a destruir passaportes russos e, portanto, já temos mais 200 mil ucranianos convertidos a russos”, explica, adiantando que é naquelas províncias que “está a maior parte do armamento”.
“Portanto, ele pode perfeitamente fazer de Dombass e Lugansk a nova Crimeia e a Ucrânia pode esquecer recuperar a províncias, porque nunca mais vai acontecer”, prevê.
Alex Pinto vive na Ucrânia há 17 anos. Recebeu o email da embaixada a aconselhar deixar o país, mas diz que não o vai fazer.
“Ontem, o cônsul ligou-me, estava eu no supermercado, e hoje recebi o email da embaixada a dizer que seria aconselhável, se não há nada para fazer aqui, que fosse para casa. Não é que estejam a dizer que tenho de ir para casa. Não é à americana, é à portuguesa, muito delicadamente”, conta.
A conversa telefónica ocorreu durante esta tarde. (...)
Mas este português diz que a guerra não começou agora. “Não vou nestas conversas. Depois de estar cá há 17 anos... Eu já vivo a guerra há oito anos, agora é que a malta acordou. Isto já existe há, pelo menos oito anos”, destaca à Renascença.
Na sua opinião, o que se passa é que Putin quer controlar a situação na Ucrânia, que deixou de ter na liderança o “seu fiel guardião”, Víktor Yanukóvytch, e, portanto, vai ter de reverter alguma coisa”.
“O que ele quer é controlar a situação na Ucrânia e que a Ucrânia continue a ser este Muro de Berlim entre a Comunidade Europeia e a Rússia”, conclui.
Nos últimos dias, muitos governos ocidentais têm aconselhado os seus cidadãos a abandonar a Ucrânia na perspetiva de que a guerra é iminente. No sábado, a companhia aérea holandesa KLM suspendeu todos os voos programados para o país e anunciou que deixará de sobrevoar o espaço aéreo ucraniano até novo aviso.